O Roteiro da Grande Mata Ancestral: Parque Nacional do Pau Brasil

Pouca gente reconhece um pau-brasil. E, ainda assim, essa árvore deu nome a um país inteiro.

Talvez por isso visitar o Parque Nacional do Pau Brasil não seja apenas entrar numa floresta. É, sobretudo, entrar numa história. A apenas 45 minutos de Porto Seguro, um dos destinos mais visitados do Brasil, esse parque é um segredo aberto: poucos ainda sabem que ele existe, quase ninguém imagina o que ele guarda. E guarda muito.

Logo na chegada, o Centro de Visitantes quebra o silêncio: bancos pesados, feitos com madeira apreendida de extrações ilegais, nos lembram que o pau-brasil ainda é alvo e ainda resiste. A madeira é tão densa que um metro cúbico pode pesar uma tonelada.

Ali, diante da exposição da fauna ameaçada, entre fotos, vestígios e pequenos gestos interativos, somos convidados a fazer um experimento simples: misturar serragem, água e um toque de amônia. A taça se tinge de vermelho escuro, a cor da história que ainda pulsa na madeira.

Antes da chegar à floresta mais velha e densa, há áreas em regeneração natural no entorno da sede, algumas que também passaram por processo de restauração. É o caso do local onde está a Trilha do Vale do Saber, uma das áreas que levam o visitante a saber que além de conservar a natureza, o Parque Nacional também a restaura.  

Há caminhos por entre bromélias gigantes, orquídeas, paus-brasil ou pau-brasis jovens e centenários. Na Trilha das Antas, podemos não ver o animal, mas vemos seus rastros e suas fezes, de onde brotam mudas: ali estava a prova viva de que a floresta se planta a si mesma.

Na Trilha Vera Cruz, o som da água corre leve e há um recanto à beira do rio onde a vontade é de ficar. Na Estrada do Pau Brasil, a árvore que dá nome ao parque aparece em todas as idades: frágeis, protegidas por cordas, adultas com acúleos nítidos, e duas, talvez três, centenárias: sem acúleos visíveis, cobertas por uma casca espessa como se o tempo tivesse silenciado suas defesas.

Caminhar por esse parque é como passar páginas de um livro vivo. A cada curva, o solo muda, a luz se transforma, o cheiro se alterna. O nome original do pau-brasil em tupi é Ibirapitanga: tronco vermelho. Um nome que carrega cor, força e permanência. A trilha com esse nome leva a um trecho de floresta onde ele é abundante, silencioso e intacto.

Na parte sul do parque, há mais: o Mirante do Maracanã, acessível a todos para todas as pessoas; a Trilha da Muçununga, com seu solo fofo e arenoso e espécies que amam esse ambiente; e a Trilha Patatiba, onde a surpresa final espera: a Cachoeira do Jacuba.”

Para vê-la é preciso descer pelo leito do Rio Jacuba, caminhar com a água nas canelas, escutar o som da água em meio ao silêncio. A queda d’água não tem alarde: escorre por um cânion esculpido em terra e raízes, frágil, única, diferente de tudo. É como se a floresta quisesse nos lembrar que a beleza, às vezes, sussurra.

Talvez o mais bonito deste parque seja perceber que ele não é feito só de trilhas. É feito de tempo. De regeneração. De paus-brasil que só estão ali porque eram velhos demais, pesados demais para serem levados.

E de jovens indivíduos que só brotam porque há proteção e a floresta ainda tem suas jardineiras: as antas, que espalham sementes assim como as aves, macacos e outros seres da floresta.

Visitar o Parque Nacional do Pau Brasil é mais do que conhecer uma unidade de conservação. É reencontrar uma origem, uma memória, uma identidade. É andar devagar, olhar para o alto, notar o invisível. E entender, talvez, que há coisas que só sobrevivem quando alguém cuida. E que há lugares que só revelam sua beleza a quem caminha com escuta e com tempo.

Localização e acesso

Entrada principal: Para quem vai de Porto Seguro sede e Eunápolis, acesso pelo km 07 rodovia BA-001 mais cerca de 4 km de estrada de terra até a sede. Para quem chega por Arraial D’Ajuda e Trancoso: https://maps.app.goo.gl/4QKA3uGba5p6fUHz8

Distância

Do aeroporto de Porto Seguro: 40 km, cerca de 50 min em estrada asfaltada (apenas 4 km em terra, em boas condições)

Dias e horário de abertura

  • A entrada no parque é gratuita e pode ser autoguiada todos os dias das 7h às 17h
  • A entrada de veículos particulares requer inclusão da placa em sistema de registro de visitas
  • Os veículos de passeio chegam até o Espaço da Jaqueira, após este ponto apenas automóveis com tração 4 x 4

Clima predominante

  • Época chuvosa: maio a setembro
  • O clima é geralmente quente marcado por dias ensolarados com chuvas esparsas

Informações

  • Criado em 20/04/1999, aberto à visitação desde 2016
  • 18.935,55 mil hectares
  • Visitação em 2023: 3.780
  • Visitação em 2024: 6.461

Importância para conservação

  • Protege a Floresta de Tabuleiro: um tipo específico de Mata Atlântica, que se caracteriza por sua vegetação densa e alta, riqueza e endemismo de espécies e grande importância ecológica. 
  • Floresta de Muçununga com bromélias gigantes: ecossistema de vegetação arenosa, savânica e/ou florestal na Mata Atlântica, especialmente em áreas de baixa altitude do litoral norte do Espírito Santo e sul da Bahia
  • Protege populações remanescentes da árvore pau-brasil, com plântulas até árvores centenárias
  • No Centro de Visitantes tem uma exposição permanente denominada “O berço do Brasil original

História

  • Brasil é o único país do mundo com nome de árvore
  • Indígenas chamavam o Brasil de Pindorama, terra das palmeiras, e não de Ibirapitanga, correspondente a pau-brasil em tupi
  • A área do parque pertenceu à madeireira Sociedade Anônima Brasil-Holanda Indústria (BRALANDA), fabricante de madeira laminada e de chapas de madeira compensada, prensada e aglomerada. Essa empresa realizava o corte seletivo da madeira, por meio do manejo florestal.

Principais atrativos

Não deixe de ver e fazer

  • Ver a exposição permanente: “O berço do Brasil original” no centro de visitantes
  • Conhecer os pau-brasis ou paus-brasil centenários
  • Admirar as bromélias gigantes na Muçununga
  • Tomar banho de cachoeira na Cachoeira do Jacuba

Reserve mais tempo para

  • Percorrer as trilhas para observar a fauna local
  • Se refrescar no rio da Barra, que já foi chamado rio do Brasil

Para uma experiência ainda mais completa

  • Alugar uma bicicleta para percorrer 18 km de trilha exclusiva para ciclismo e pelo menos 40 km de estradões nos Caminhos do Brasil Original

Detalhamento dos principais atrativos

Trilhas no Wikiloc: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=11948451

Setor Sede

O Setor Sede é uma área que proporciona experiências voltadas à conservação do patrimônio natural e histórico-cultural protegido pelo Parque, sendo também o principal local de realização de eventos. Aqui você pode conhecer:

  • Centro de Visitantes: abriga a exposição permanente “O Berço do Brasil Original“, que conta um pouco da história do contato entre portugueses e povos indígenas ocorrido na região no ano de 1500, além de aspectos da natureza do Parque e da história das comunidades do entorno da Unidade. Tudo isso a partir de uma rica iconografia da fauna e flora, a exemplo das pinturas e mapas naturalistas que conseguem transmitir a riqueza de plantas e animais da floresta nativa, além de rico acervo fotográfico disponível.
  • Espaço Infantil: dispõe de brinquedos artesanais, construídos por trabalhadores do Parque a partir de técnicas de fabricação próprias e fazendo uso de madeiras reaproveitadas. Individual ou em grupo, o local é um convite à diversão e à alegria. 
  • Casa de pau a pique: erguida artesanalmente a partir de técnica construtiva antiga e com uso de materiais encontrados no local, atualmente tornou-se bastante rara na região. Consiste no entrelaçamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, amarradas entre si por cipós, dando origem a um grande painel perfurado que, após ter os vãos preenchidos com argila, transforma-se em parede. Ambiente aconchegante e que conta parte da história do lugar.
  • Conexão Floresta Ancestral: antiga área degradada, cujo processo de restauração tem o protagonismo de visitantes, principalmente de grupos que participam das visitações com objetivos educacionais. No local estão plantadas espécies como o ipê e o pau-brasil. 
  • Espaço Revigorante: abriga um curso d’água que nasce nas proximidades da sede, integrando a Trilha Vale do Saber.

Lado Norte

  • Acesso pela Estrada do Pau Brasil e da Juerana
  • Mirante do Pau Brasil: revela a força regenerativa da floresta de uma área antes explorada por madeireiras, hoje retomada pela mata original
  • Trilha das Antas com 2,4km pode ser percorrida em 60 minutos, plana e propícia para observação de aves e rastros da anta, a jardineira natural da floresta. Também em ambiente de muçununga, ao final da trilha, uma lagoa com água de coloração avermelhada, devido ao ferro oxidado, concentra-se na superfície em determinadas épocas do ano, fazendo um belo convite para os bichos da floresta
  • Trilha Vera Cruz com 800m e é percorrida em 40 minutos, levando ao rio onde moradores antigos passavam para ir à vila; há uma área de descanso, ideal para banho no rio da Barra, antigo rio do Brasil, ou piquenique
  • Trilha das Bromélias: passa por solo arenoso de muçununga, habitat favorito de bromélias e orquídeas exuberantes, com 540m, de nível fácil, pode ser percorrida em 25 minutos
  • Trilha Ibirapitanga: onde o solo muda e o pau-brasil aparece em abundância. O nome vem do tupi: “tronco vermelho”, com 150m, pode ser percorrida em 15 minutos, mas não dá vontade de sair do berçário dos paus-brasil ou pau-brasis

Lado Sul

  • Acesso pelo Corredor do Jabuti e Estrada do Jacuba
  • Mirante do Maracanã, acessível a cadeirantes, com vista ampla e silenciosa
  • Trilha da Muçununga com 500m e vegetação típica desse solo raro e arenoso
  • Trilha Patatiba com 1,2km, leva 40 minutos e é onde está a Cachoeira do Jacuba, uma das únicas de Porto Seguro
  • Cachoeira do Jacuba: para vê-la é preciso entrar no leito raso do Rio Jacuba, e caminhar com água na altura dos tornozelos por cerca de 50 metros. A queda, tímida e inesperada, escorre por um cânion de terra e raízes, uma formação delicada e surpreendente, rara até mesmo entre os cânions mais conhecidos do país

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Imagens

  • © ADRIANO GAMBARINI WWF-Brasil
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