O Roteiro da Grande Mata Ancestral: Parque Nacional do Descobrimento

Algumas árvores já estavam aqui quando o Brasil tinha outro nome: Pindorama ou Terra das Palmeiras. Estavam de pé quando a floresta foi cortada, quando a madeira virou lucro, quando o tempo parecia correr só para frente. Estão de pé até hoje.

No Parque Nacional do Descobrimento, essas árvores não são apenas cenário. São testemunhas. E também mestres. A gameleira gigante, a juerana e outras espécies centenárias parecem guardar em silêncio o que a história não soube contar.

Resistiram ao tempo, ao corte e ao esquecimento. Hoje, permanecem. Não como relíquias, mas como presença viva de uma floresta que insiste.

Antes de se tornar parque, essa área foi uma área de manejo florestal. As trilhas por onde agora caminham visitantes eram, décadas atrás, rotas de extração. Ainda há marcas. Na trilha da Juerana podemos observar árvores centenárias ainda com placas de identificação para o corte.

Mas a floresta se regenera com lentidão e força com raízes que se entrelaçam, com fungos que formam redes subterrâneas de comunicação, com animais que espalham sementes sem pedir nada em troca. Cada árvore aqui pertence a uma inteligência coletiva.

É um parque de floresta fechada, mas com acessibilidade. As trilhas têm diferentes tamanhos, ritmos e níveis de esforço. Algumas são curtas e planas, outras mais longas e sinuosas. É possível conhecer o essencial em poucas horas, mas quem quiser ver mais, e escutar mais, vai querer voltar.

Aberto a partir das seis da manhã, o parque oferece uma oportunidade rara: observar os animais logo nas primeiras horas do dia. Tucanos, bichos-preguiça, macacos, antas, pegadas e sons das aves que preenchem o silêncio. O caminho até a Lagoa Só Não Vou pode ser feito de bicicleta, de carro ou a pé. E a cada curva, há chance de cruzar pegadas, sons ou movimentos sutis entre as árvores, sinais de que a floresta observa de volta.

Aliás, a lagoa tem sua própria história. Dizem que, há muito tempo, uma onça-pintada, topo da cadeia alimentar, costumava rondar a lagoa para beber água. Uma clareira, o espelho d’água, o cheiro da mata molhada, os olhos atentos no escuro. Era um lugar que inspirava respeito e que os moradores antigos preferiam evitar. Quando perguntados se iriam até lá, a resposta era curta: “só… não vou.”

Nesse parque chamado Descobrimento, talvez o mais bonito não seja descobrir nada. Mas reaprender a ver o que sempre esteve aqui.

Localização e acesso

  • Portaria principal: acesso pela rodovia BA-489 entre Prado e Itamaraju
  • Portaria leste: Aldeia Guarita em Cumuruxatiba (requer agendamento prévio com a liderança indígena da aldeia Gurita)

Distância

  • Do aeroporto de Porto Seguro: 180km, cerca de 3h10min em estrada asfaltada
  • De Prado: 32km, cerca de 30min em estrada asfaltada

Dias e horário de abertura

Clima predominante

  • Época chuvosa: abril a julho; Época mais propensa a chuvas: maio e junho
  • O clima é instável, sempre intercalado com dias ensolarados, chuvas esparsas

Informações

  • Criado em 24/04/1999, aberto à visitação desde 2018
  • 22.607,74 mil hectares
  • Visitação em 2023: 1.679
  • Visitação em 2024: 3.039

Dupla proteção e gestão compartilhada

  • 20% do Parque Nacional é Território Indígena Comexatibá (Cahy-Pequi), da etnia Pataxó, demarcada em 2015
  • Primeiro parque brasileiro a prever oficialmente a compatibilização de direitos ambientais e indígenas. O Termo de Compromisso assinado (ICMBio, FUNAI e 6 aldeias sobrepostas) em 2018 e renovado em 2023 é usado como exemplo de sucesso em outras UCs.
  • 6 aldeias Pataxó: Alegria Nova, Gurita, Kaí, Monte Dourado, Pequi e Tibá
  • Dupla afetação e gestão compartilhada

Importância para conservação

  • Protege a Floresta de Tabuleiro: um tipo específico de Mata Atlântica que se caracteriza por sua vegetação densa e alta, riqueza e endemismo de espécies e grande importância ecológica
  • Floresta de Muçununga: ecossistema de vegetação arenosa, savânica e/ou florestal na Mata Atlântica, especialmente em áreas de baixa altitude do litoral norte do Espírito Santo e sul da Bahia
  • Sítio do Patrimônio Mundial Natural, Reserva da Mata Atlântica da Costa do Descobrimento, Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Corredor Central de Mata Atlântica e o Mosaico de Áreas Protegidas do Extremo Sul da Bahia
  • Região de megabiodiversidade conhecida como Hileia Baiana, que possui espécies em comum com a Hileia Amazônica
  • Um dos únicos e últimos redutos do mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii)
  • Árvores gigantes e centenárias como a juerana (Parkia pendula), o paraju (Manilkara salzmannii) e a gameleira (Ficus gomelleira)

História

  • Próximo à Barra do Rio Cahy, o primeiro ponto de fundeio da armada de Pedro Álvares Cabral no Brasil, em 1500
  • A área do parque pertencia à madeireira Sociedade Anônima Brasil-Holanda Indústria (BRALANDA), fabricante de madeira laminada e de chapas de madeira compensada, prensada e aglomerada.
  • Em 2024 o Conselho Consultivo decidiu por alterar o nome do parque para Parque Nacional Maturembá, que significa mata grossa/densa em patxohã (idioma Pataxó) – o processo de alteração foi concluído e depende de decisão da Presidência da República para efetivação.

Principais atrativos

Não deixe de ver e fazer

  • Conhecer as árvores gigantes centenárias: gameleira e juerana
  • Admirar e tomar um banho de lagoa na Só Não Vou
  • Admirar a vista do Mirante

Reserve mais tempo para

  • Observar a fauna em uma das inúmeras trilhas
  • Percorrer a trilha do Tambor em bicicleta

Para uma experiência ainda mais completa

  • Visitar e realizar uma vivência cultural nas aldeias Pataxó
  • Fazer a Travessia do Parque (caminho da Lagoa e caminho de Cumuruxatiba) completa com um condutor Pataxó
  • Participar do Vem passarinhar Cumuru

Detalhamento dos principais atrativos

Trilhas no Wikiloc: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=5683950

  • Caminho da Lagoa: trilha plana e sombreada de 11,5 km (ida), que pode ser percorrida em 2 a 4 horas a pé (ida) ou 30 minutos de carro (ida). Também pode ser feita de bicicleta, leva até a Lagoa Só Não Vou
  • Lagoa Só Não Vou: espelho d’água com déque próprio para contemplação, meditação, banho e piquenique, assim como observação da fauna, flora e paisagem
  • Mirante da lagoa: acessível, permite observar do alto a lagoa e por cima da copa das árvores da floresta de tabuleiro, excelente ponto para observação de aves
  • Trilha do Macaco-Prego: a mais curta do parque, próxima à portaria com 230m (acesso) e 447m (trilha propriamente dita). Plana, sombreada e fácil, é percorrida em 30min a 1h
  • Trilha da Gameleira: há duas formas, a curta – 4,5Km (acesso de carro ou a pé) + 280 m (trilha à pé, ida), que leva 10 minutos (ida) e é fácil – para chegar rápido e aproveitar ao máximo o tempo nas raízes dessa gigante, e a longa – totalmente sombreada com 6,9 km (ida), que leva 2 a 3 horas (trilha a pé, ida) – para aproveitar bem o caminho e aumentar as chances de cruzar com a fauna local
  • Trilha da Juerana: a outra gigante da floresta é acessada através de uma trilha plana e sombreada de 4,5 km (trilha ida), que leva 1,5 a 3 horas (ida) após o aceso de 7,5 km que pode ser feito a pé, de bicicleta ou de carro
  • Trilha do Tambor: inicialmente projetada para ser feita de bicicleta, tem 11,7 km (trilha, ida) após percorrer 7 km (acesso, pode ser feito de carro). Leva 1 a 3 horas para percorrer de bicicleta (ida) e 4 a 5 horas a pé (ida). Tem trechos íngremes e por isso é considerada difícil
  • Caminho de Cumuruxatiba: a continuação do caminho da Lagoa, com 12,9 Km (trilha a pé, ida) pode ser percorrido a pé entre 3 a 4 horas (ida) e com saída na Aldeia Gurita
  • Travessia do Parque: tem 24,4km (trilha a pé, ida) e é a união dos Caminhos da Lagoa e de Cumuruxatiba
  • Cultura Pataxó: Visita a aldeias e realização de vivências como culinária, awê, artesanato, banho de ervas, pintura corporal, processo de produção da farinha, além de caminhadas e condução para observação de aves

Pontos de contato

Saiba mais

Imagens

  • © CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / NICO FERRI
  • DENNIS HYDE @entreparquesbr
  • LETÍCIA ALVES @entreparquesbr

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