O parque nacional do Descobrimento é foi criado ainda em 1999, mas o processo para abertura do mesmo para visitação é recente. Quase 20% da área do parque está sobreposta a uma terra indígena Pataxó. Essa complexidade somente foi solucionada com o que se chama de dupla afetação, ou seja, uma unidade de conservação com gestão compartilhada com um território indígena.

A área do parque pertencia a uma madeireira até que o mesmo fosse criado com o intuito de proteger um dos últimos remanescentes de mata de tabuleiro, sua fauna e flora.

http://www.pos.entomologia.ufv.br/wp-content/uploads/2016/10/livrofloresta.pdf

Um parque muito acessível, desde as informações prévias até as trilhas

Apesar de ser um parque recente e ainda pouco visitado, as informações estão muito bem organizadas (https://linktr.ee/parnadescobrimento): trilhas, normas e até um podcast que trata de temas importantes e complexos como a caça de animais silvestres.

O acesso é fácil, a entrada do parque fica junto à BA-489, estrada asfaltada de pista simples entre Prado e Itamaraju. Lá dentro é possível entrar de carro, há uma estrada longa de terra, mas em boas condições, algumas trilhas para percorrer a pé, outras onde é permitido ir de bicicleta e uma onde é obrigatório ir de bicicleta.

As trilhas são diversas e variadas em termos de dificuldade e distância

A pé, de carro ou de bicicleta

  • Caminho da Lagoa (11,5km), saindo da portaria e levando até o mirante e a Lagoa Só Não Vou. Este caminho é uma estrada para carros, mas que pode ser feito em sua totalidade ou parcialmente a pé ou de bicicleta (recomendamos!). Ele corta o parque praticamente na metade, logo pode-se esperar um encontro com fauna por ali. Em carro também é bacana, mas acabamos passando mais rápido e ao fazer barulho os animais podem se afugentar.

Somente a pé

  • Macaco-Prego (727 metros), saindo da portaria e percorrendo um trecho de mata com baixa dificuldade. Ali ainda há barulho da rodovia e fica numa das pontas cercadas de lavouras de café, por isso o encontro com fauna é menos provável, o que não torna a caminhada menos interessante e bela.
  • Gameleira longa (6,9km), saindo da portaria e percorrendo uma mata fechada até a enorme Gameleira. Uma trilha plana e fácil, inteira sombreada pelas altas árvores. A chegada à Gameleira centenária é emocionante e há até um banquinho para sentar e apreciar.
  • Gameleira curta (cerca de 200 metros), saindo uns 4,0km portaria e percorrendo uma trilha curta até a mesma Gameleira. Para quem não fizer a trilha comprida, é possível seguir pelo Caminho da Lagoa até um atalho que leva diretamente à Gameleira.
  • Juerana (4,5km), saindo 7,5km da portaria e chegando até uma enorme e formosa Juerana. Essa é uma trilha que vai “parque adentro”, com menor dificuldade que a Gameleira longa por ser praticamente reta e larga. A Juerana reina no espaço, com suas raizes que formam bancos naturais.

Somente de bicicleta

  • Ciclotrilha do Tambor (11,7km), saindo uns 7,0km da portaria, percorrendo a parte mais montanhosa e levando até a Lagoa Só Não Vou. Essa trilha é bem difícil. Além do sobe e desce morro, há muita raiz exposta e muito galho de árvore que interrompe a trilha. Com isso, é frequente ter que carregar a bicicleta ao invés de se fazer usar da inércia e facilidades da pedalada. É a trilha mais bonita, mas aproveitamos menos pelo fato de levar a bicicleta nos momentos mais lentos e passar muito rápido sem perceber tanto a flora e a fauna, quando possível.

Este parque oferece excelente acessibilidade, tanto para percorrer um longo trecho de floresta de carro quanto para que o mirante e a lagoa sejam acessados. Infelizmente não há ponto para banho, mesmo na Lagoa Só Não Vou, então, prepare-se para ir cedo ou no final do dia, quando o calor é menos intenso.

A fauna tende a estar mais presente no início do dia, o parque abre às 6h da manhã

Aliás, este parque tem uma fauna riquíssima: macacos-prego, mutuns, bichos-preguiça, tatus, antas, onças-pardas, entre tantos outros. A nossa fauna tende a ter hábitos mais noturnos, escondendo-se durante o dia. Para aumentar as chances de ver os animais, convém ir bem cedo. Este parque abre às 6h da manhã, quando ainda estão mais ativos. De quebra, você ainda evita os momentos de calor mais forte.

Nota: não existem ataques de onças no Brasil a não ser quando a mesma é encurralada ou está sendo caçada. Procure saber mais sobre a onça, seu habitat, seu comportamento e o que fazer se encontrar uma na trilha. Antes de ter medo de ir até um ambiente natural por poder encontrá-la, informe-se com institutos sérios que estudam e divulgam informações sobre elas.

https://procarnivoros.org.br/projeto/projeto-oncas-do-iguacu/

Está sendo construída uma infra estrutura para receber visitantes na portaria do parque, acreditamos que numa próxima visita já estará pronta e trará ainda mais educação ambiental para os visitantes e moradores do entorno.

Esta região está sofrendo um grande avanço de plantações de eucaliptos. Apesar de parecer “tudo verde”, o desmatamento para plantio de espécies não nativas como o eucalipto consome muita água, fazendo com que o micro-clima da região seja alterado e as nascentes sequem.

O que chama mais atenção neste parque sem dúvida são as árvores gigantes

As árvores gigantes roubam a cena, em particular a Juerana e a Gameleira para as quais há trilha. São árvores ainda pouco estudadas, não há sequer uma expectativa da idade delas!

São sobreviventes com provavelmente seus 500 anos ou mais, que por algum motivo não foram, durante todos esses anos, objeto de corte. Mas mostram que nesta região deveria haver, assim como elas, diversas árvores multi-centenárias que não tiveram a mesma sorte.

A Juerana já impressiona pelo seu porte e por tomar conta de um grande pedaço da floresta. A mata de tabuleiro é menos densa que a mata atlântica que conhecemos do litoral paulista, onde temos maior familiaridade, mas também mais alta. Fica mais fácil de percorrer e observar ao longe o que acontece dentro da mata.

A Gameleira é ainda maior, mais imponente. Suas raízes são tão altas e longas que fica difícil saber onde ela termina. A copa pode ser avistada pela parte de trás dela. Mas observá-la inteira não é necessário, dá a impressão de haver tantos micro-mundos ali dentro, que é fácil “se perder” observando os detalhes.

Vale aproveitar a visita para rediscutir o termo “Descobrimento”

Não poderíamos aproveitar para comentar sobre o nome do parque. Ele foi dado por conta de esta região ser conhecida por “Costa do Descobrimento”. No entanto, salta aos olhos que o termo descobrimento continue sendo usado, principalmente para dar nome a uma unidade de conservação e onde há uma terra indígena.

Convém repensarmos esse termo, tendo em vista que já habitavam no que hoje é o nosso país muitos povos. Sabemos que mudar o nome de um parque nacional pode ser complexo e não vale a pena. Que o nome consiga trazer a reflexão que precisamos fazer cada vez mais sobre a história do nosso país.

Aliás, temos tentado retirar do nosso vocabulário esse termo por completo. Em nossas vidas nada descobrimos, a não ser sobre nós mesmos ou sobre nossas relações. O restante, em geral, já foi criado ou descoberto. Cabe a nós tomar conhecimento e propagá-lo.

Terra Indígena Pataxó e vista às aldeias

Na época em que visitamos estava ocorrendo um treinamento de condutores, a maior parte deles indígenas das aldeias que estão na área do parque. Por esse motivo, não somente não demos sorte de ter um condutor, o que agrega muito à visita, como não conseguimos visitar as aldeias. Convém se informar antes da visita, pois essas possibilidades (condutor e visita às aldeias) devem ser ajustadas logo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Patax%C3%B3s

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

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