Nós já havíamos visitado este parque em outra oportunidade e não cansamos de nos surpreender desta vez novamente.

Aqui está o 3o ponto mais alto do país, o pico da Bandeira. Do alto dos seus 2.892 metros é possível ver grande parte do parque e a diferença entre o que vem sendo protegido e o que vem sendo utilizado para outros fins além dos limites do parque nacional. Não estivemos no Pico da Neblina ou no 31 de Março, o 1o e 2o mais altos do Brasil, mas sabemos que o acesso ao Pico da Bandeira é de longe mais fácil.

Até os anos 60 acreditava-se que o Pico da Bandeira era o ponto mais alto do país, provavelmente o motivo pelo qual a infra-estrutura deste parque é de dar gosto. Até que com melhor precisão de medição verificou-se que era o 3o.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_Pontos_Culminantes_do_Brasil

São quatro abrigos/áreas de acampamento, dos quais três acessíveis de carro. Todos ficam próximos ao pico, ligados por trilhas mais longas (lado mineiro – Tronqueira e Terreirão) ou mais curtas e íngremes (lado capixaba – Macieira e Casa Queimada).

Além do Pico da Bandeira e da infraestrutura para chegar até lá, este parque ainda tem mais 6 picos acima de 2.500 metros e diversos poços de água esverdeada para serem explorados com calma, todos eles bastante acessíveis. Recomendamos não correr para visitá-los, mas procurar passar pelo menos meio período em cada um, observando as mudanças do ângulo do sol e encontrando seu momento preferido em cada um deles.

A conexão deste parque está em diversos níveis. Apesar de ser um parque com área predominantemente capixaba, o parque é acessado com maior intensidade pelo lado mineiro. O parque é um elo entre os estados, de forma que há uma trilha que liga a entrada de Alto Caparaó à de Pedra Menina passando pelo Pico da Bandeira.

Também nos chamou a atenção a intensa conexão da sociedade civil com este parque em duas formas. A primeira são os guias, que se organizaram para que os abrigos fossem abertos e o pernoite permitido no parque, assim como a ascensão noturna ao Pico da Bandeira. Com um quadro restrito de funcionários do ICMBio e a necessidade de evitar que turistas façam fogueiras ou deixem lixo nas áreas de camping, foi uma solução em que todos ganham: mais turistas contratam mais guias, se beneficiam da riqueza do parque, levam recursos para hotéis, pousadas e restaurantes, levam embora para casa a educação ambiental e contribuem com o ciclo da conservação deste parque nacional.

A segunda está vinculada ao café. Esta região foi propositalmente não muito desenvolvida na época do Império por conta de ser próxima à rota do ouro. Por conta disso, pequenas propriedades que antes plantavam por subsistência aos poucos viram a vantagem em plantar café em áreas elevadas e frias, onde as pragas prosperam menos. Aos poucos o café dessa região começou a ser reconhecido e premiado, ganhando espaço ainda em pequenas propriedades.

Nos últimos anos alguns dos cafés premiados foram de produtores orgânicos. O mercado consumidor de cafés especiais exige não somente a qualidade no produto, mas que os trabalhadores sejam registrados, que seja feita avaliação da água e que não seja utilizado veneno. Foi nesse sentido que o entorno começou a cuidar ainda mais dos processos de produção, preferindo orgânicos e agora preparando-se para produção agroflorestal.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Agrofloresta

Com isso, as águas que nascem no parque conseguem um fôlego maior de proteção: as lavouras usam cada vez menos veneno e a água que chega até a população para consumo é menos contaminada. Na cidade de Alto Caparaó não há conta de água, dada a abundância desse recurso.

https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/contaminacao-da-agua-potavel-por-agrotoxico-no-brasil-e-tema-de-audiencia-publica-na-camara-dos-deputados/

O Pico da Bandeira

A subida ao pico não é fácil, mas não é das trilhas mais difíceis. Indo pelo lado mineiro ou capixaba, as trilhas são bem demarcadas tanto de dia quanto à noite, com fitas reflexivas.

Pelo lado mineiro o trajeto é mais comprido, começa no acampamento Tronqueira, de onde sai uma trilha para o Vale Encantado, passa pelo acampamento Terreirão e segue até o pico. Além de ser menos íngreme, o ponto de parada no Terreirão, com banheiro, torneira, mesa e bancos permite um descanso maior.

Pelo lado capixaba a subida é mais curta, mas sobe-se mais. Primeiro sobe-se até o Pico do Calçado, a 4a montanha mais alta do Brasil, com 2.849 metros. Depois há um bom trecho de descida até começar a subir novamente até os 2.892 metros do Pico da Bandeira. Essa trilha está mais erodida e em alguns pontos é necessário ajudar com as mãos.

Pelo lado mineiro há vista do Pico da Bandeira quase desde o início (na verdade, observa-se o Pico do Cruzeiro, que é um falso cume do Pico da Bandeira, mas com 2.852 metros acima do mar), sobe-se olhando para ele a maior parte do tempo. Pelo lado capixaba a vista é mais ampla das demais montanhas. Somente depois de passar o Pico do Calçado é possível avistar o Pico da Bandeira, há mais suspense.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_da_Bandeira

Na dúvida, subimos pelo lado mineiro de dia e pelo lado capixaba à noite. Ambas valeram à pena, sendo que à noite tivemos o privilégio de subir numa noite quando alguns astros estavam alinhados: Júpiter, Marte, Lua, Vênus, Mercúrio e Sol, respectivamente.

Os outros picos

Além do pico da Bandeira, há mais dois picos que podem ser acessados, outros tantos ainda somente admirados. O Pico do Calçado do qual já falamos dá uma visão para o vale do lado capixaba e permite observar tanto o Pico da Bandeira de um lado quanto o Pico do Cristal, de outro.

O Pico do Cristal fica fora da rota para o Pico da Bandeira. No dia que subimos havia uma forte neblina de um dos lados. Está em implementação a travessia dos Sete Cumes, que unirá sete montanhas com mais de 2.500 metros do parque nacional: Pico da Bandeira, Pico do Cruzeiro, Pico do Calçado, Pico do Calçado Mirim, Pico do Cristal, Morro da Cruz do Negro, Pico do Tesouro (pode haver alterações, dado que quando fomos o traçado não estava fechado e alguns picos podem acabar sendo considerados juntos para abrir espaço para mais um).

Os poços no caminho do pico

Do lado mineiro há um local altamente procurado por pessoas em busca de uma foto em um lindo poço com vista para um belo vale: o Vale Encantado. Um trajeto relativamente fácil de pouco mais de 300 metros a partir do acampamento Tronqueira leva até esse local maravilhoso, cheio de poços que parecem piscinas convidando quem chega a se banhar nelas.

Recomendamos caminhar não somente no ponto mais alto, mas ao longo de todo o vale, pois a beleza de cada poço muda de acordo com a profundidade e o ângulo do sol. Encontre uma onde fique confortável, há espaço para muita gente. Mas recomendamos também cautela ao caminhar, pois há risco de escorregões e queda nessa área. Bate sol ali quase o dia todo, mas pela manhã é ainda mais forte.

Do lado capixaba há três poços que são chamados de cachoeiras. A cachoeira da Farofa fica uns 1.000 metros acima do acampamento da Macieira, vimos que é um lugar para ir antes do meio dia, quando a sombra pode tampar parte do reflexo e da beleza do lugar. A água, pelo menos na época do inverno quando fomos, era muito gelada a ponto de nos perguntarem se estávamos pagando promessas.

A cachoeira do Aurélio é mais alta e tem um mirante do outro lado, o que permite não somente entrar nas piscinas de água transparente e fundo infinito, mas também observá-la por completo pelo outro lado.

Não demos sorte, mas entendemos que nesse mirante há chances de avistar um muriqui. São os maiores primatas das Américas, do tamanho de um ser humano adulto. Extremamente dóceis, estão perdendo espaço para as lavouras e ficando confinados em pequenas áreas, o que é uma grande ameaça.

As fêmeas por vezes abandonam seus bandos para procurar outros bandos e procriar e acabam se perdendo. Por isso é fundamental o trabalho de uma equipe que monitora e protege a espécie, dando segurança para que as fêmeas não se percam de vez e consigam encontrar os bandos.

Vale dar uma olhada no perfil deles e nas reportagens onde eles divulgam sobre a conservação dos muriquis: https://www.instagram.com/savethemuriqui/

Os poços em outros pontos

Parece que onde quer que você vá há um poço “encantado”. Na Hidrolândia, onde o sol é mais forte pela tarde, há um conjunto de sete belas e geladas cachoeiras. Mas não dá para resistir, é sempre revigorante entrar nas belas e limpas águas.

Trata-se de uma propriedade privada que está na área do parque mas que ainda não foi indenizada, por isso segue explorando os atrativos. Mas o ICMBio tem feito um excelente trabalho se aproximando e gerando debates, de forma que fogueiras, bebidas alcoólicas, caixinhas de som são proibidos, assim como no restante do parque nacional.

Também estivemos no Poço das Antas, cuja trilha está em ótimas condições de manutenção, mas é bastante mais íngrime que as demais. Qualquer esforço foi mais que compensado pela vista e pelo banho nessas águas.

Quer um parque bem estruturado, com um entorno preparado (aos finais de semana e feriados) para receber turistas, que permite pernoite gratuito dentro da área do parque, com diversos poços maravilhosos para banho e diversas possibilidades de caminhadas, inclusive chegando ao 3o ponto mais alto do Brasil?

Pois é, o Caparaó nos conquistou tanto que ainda não entendemos como ele não está dentre os principais roteiros de todos os brasileiros. Além de tudo isso, há muita história, a receptividade mineira e o café de primeira qualidade para ser degustado.

Quer saber mais sobre as principais trilhas do Parque Nacional do Caparaó? No link abaixo do etrilhas você encontra descritivos detalhados e atualizados sobre elas. Clique no link abaixo para acessar:

https://etrilhas.com.br/unidades-de-conservacao/parque_nacional_do_capara_

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

Um comentário em “Parque Nacional do Caparaó: o parque da conexão

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