É bem provável que você nunca tenha ouvido falar deste parque nem das palavras restinga ou jurubatiba. Este foi o último a ser visitado dos 5 parques nacionais do estado do RJ (dois deles divididos com outros estados, mas fato que o RJ é bem privilegiado nesse assunto).
Este é o décimo parque nacional mais visitado do Brasil!
Quase 140 mil pessoas visitam ao ano, mais que parques mais conhecidos como Aparados da Serra ou Itatiaia, mais que o dobro de parques como Serra da Capivara e São Joaquim.
Tudo isso por uma razão muito simples: suas lagoas. Não todas as 18 que se espalham ao lado da faixa oceânica, já que a maior parte não é tão boa para banho, mas há cinco principais mais visitadas. Outros motivos são a proximidade da cidade de Macaé: a entrada do parque fica ao lado de uma comunidade com mais de 40 mil pessoas. E o fato de o mar, apesar de amplo, não ser propício a banho, pois é muito mexido. E com o calor que faz ali, as lagoas são as alternativas de turismo da região.
Boas e más notícias sobre o turismo em massa
É muito bom ver um parque ser bastante utilizado, inclusive pela população local. Os parques podem atrair turistas e recursos de pessoas de fora, mas também propiciam bem-estar para as comunidades locais, e uma das formas é a visita.
Por outro lado, o turismo em massa acaba por não privilegiar o turismo ecológico, a educação ambiental à qual os parques se propõem e para qual foram criados. A infraestrutura de banheiros e lanchonete perto da lagoa de Jurubatiba, a mais visitada, foi depredada, dificultando a visita de locais e turistas.
Mas a natureza está bem protegida e pronta, o acesso é fácil e existem outras lagoas para visitar, além da restinga propriamente dita.
Esta é a faixa de restinga mais bem preservada do país
A importância disso vai além da biodiversidade que a restinga contempla (como se não fosse suficiente), mas também protege o fluxo de areias. Quando ocorrem construções em uma área de restinga há efeitos tanto na costa, à medida que as areias não voltam para o mar como antes, mas também que áreas alagadas sejam soterradas.
As áreas alagadas, além de serem importantes em si, nas restingas são importantes pontos de parada para alimentação, descanso e reprodução de aves. Essas aves muitas vezes atravessam o continente. Ou seja, o impacto da degradação de uma restinga no Brasil pode ser sentido na América do Norte, que receberá menos aves migratórias.
Juruba: a palmeira pioneira da qual se vê somente a copa
A juruba, por sua vez, é uma palmeira que tem seu tronco abaixo da faixa de areia, somente sua copa com suas folhas fica para fora. Ela é uma formação pioneira, pois ela consegue crescer e se desenvolver na areia quente e com poucos nutrientes.
À medida que a juruba cresce, ela cria sombra e fixa nutrientes no solo para que mais espécies se desenvolvam. Daí vem a fauna, que ajuda a espalhar a flora, numa crescente chamada equilíbrio ecológico.
É muito fácil chegar e se locomover no parque. No entanto, dirigir na faixa de areia é um desafio, mesmo com um 4×4. Recomendamos que procure um guia que saiba dirigir nessa região para evitar acidentes e atolamentos, mas que também conte da história e da riqueza do lugar.
Neste parque há diversas aves migratórias, mas também algumas que vivem lá o ano todo
Há muitas particularidades dessa região, como o sabiá-da-praia, que tem um belo canto e é monocromático, diferente os sabiá-laranjeira com o qual estamos mais acostumados.
Na faixa litorânea do parque há três balneários, para os quais há estradas asfaltadas ou de terra em excelentes condições: Carapebus, João Francisco e Visgueiro, estes dois últimos no município de Quissamã. Além desses, na cidade de Macaé é possível acessar o parque pela comunidade Lagomar. Mas é ali onde enche mais, recomendamos ir nos demais pontos para maior conforto e sensação de estar num local intocado.
Lagoas para banho (sul) vs lagoas para observação de aves (norte)
Das 18 lagoas, cinco são mais procuradas para banho, as demais são bastante rasas e mais próprias para observação de aves, principalmente entre março e abril quando as espécies migratórias estão por lá.
A água pode variar de cor e em termos de salobridade ao longo do ano. Isso porque de acordo com as chuvas as lagoas podem encher e romper a fina barreira de areia entre elas e o mar. É nesse momento que as espécies do mar entram para as lagoas, onde seguem seu ciclo de vida, inclusive alimentando as aves.
Mesmo tendo ido próximo ao inverno, a água tinha excelente temperatura. Algumas lagoas estavam mais transparentes e outras com coloração avermelhada, o que indica a abundância de nutrientes.
Tivemos inclusive a oportunidade de remar ao longo da lagoa de Jurubatiba durante quase um dia todo. Além da paz, ar puro, observação de aves que essa experiência proporciona, ainda conseguimos alcançar o canal Campos Macaé e observar a diferença entre a vegetação que tem face norte, mais rasteira, arenosa, e a vegetação face sul, onde há mais sombra e árvores bem mais altas, com maior densidade de flora.
Canal Campos Macaé: importância histórica e beleza
O canal Campos Macaé, aliás, é mais um ponto histórico de rica beleza cênica. Construído pelo homem nos anos 1860 para transporte de cana de açúcar, tornou-se rapidamente obsoleto quando chegou a estrada de ferro. O canal confunde-se com as belezas naturais e comunica as lagoas de forma a equilibrar seus níveis.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_Campos-Macaé
Existe a possibilidade de acessar o canal de barco a motor, mas também remando. No entanto, não há caiaques e pranchas de stand-up paddle para alugar nas redondezas, o que é uma pena. Mas caso você tenha a sua, não deixe de levá-la. E caso você tenha mais de uma ou uma empresa que aluga esses equipamentos, fica a dica de uma oportunidade de negócio.
Se tiver e puder levar, não esqueça seu caiaque ou prancha de SUP
Focamos muito em falar sobre as lagoas, mas não deixe de visitar a restinga, caminhar pelos seus labirintos. Tome cuidado para não se perder, convém marcar bem suas pegadas no chão para saber voltar ao ponto inicial.
A restinga é um labirinto: brincadeira de criança, mas com cuidado!
A flora da restinga é muito diferente do que vemos no restante da mata atlântica: não é densa como uma floresta, mas tampouco é rasteira como os campos de altitude. Basta caminhar por ela para perceber como uma juruba se fixa e atrai novos tipos de vida. Também como as plantas como bromélias conseguem captar e armazenar água da chuva, que rapidamente evapora ou é absorvida ao tocar o chão arenoso e quente.
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:
Além de acompanhar nossos vídeos no YouTube onde falamos sobre cada parque nacional, vale a pena assistir dois vídeos sobre a Restinga de Jurubatiba: