O Roteiro da Grande Mata Ancestral: Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal

Dizem que foi aqui que tudo começou. Que foi este monte, surgindo no horizonte, que os navegadores europeus avistaram do mar e chamaram de “terra à vista”. Mas essa história, repetida nos livros e em algumas placas, não conta tudo. Porque quando chegaram, já havia vida. Já havia história. E já havia floresta.

O Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, sobreposto às Terras Indígenas Barra Velha e Barra Velha do Monte Pascoal, abriga um dos últimos grandes remanescentes contínuos de Mata Atlântica do sul da Bahia. É floresta que se estende do mar à montanha, passando pela restinga, muçununga e mangue, uma transição rara e preciosa entre ecossistemas.

Um corredor vivo onde a terra respira em muitos ritmos. Onde o sal e o barro encontram o verde denso das copas altas. Onde a biodiversidade não é só riqueza, mas também elo entre mundos.

Ali, os mangues não são apenas paisagem: são berçários. Fixam carbono, filtram a água, alimentam peixes, protegem a costa. São raízes que se entrelaçam por baixo e por cima da terra, segurando tudo, inclusive a memória do que foi e do que pode continuar sendo.

O Monte Pascoal, que dá nome ao parque, se impõe com serenidade. A trilha até o topo está ao lado da Aldeia Pé do Monte e é guiada por condutores indígenas Pataxó. A caminhada exige fôlego e entrega. Subir ali é mais do que vencer o relevo: é atravessar tempo e presença.

Cada passo é aula de botânica, de cosmologia, de resistência. E do alto, a vista desafia a lógica. A floresta é tão densa que o relevo se dissolve, em dias claros é possível avistar o mar e a praia. O que é plano? O que é montanha? A perspectiva se embaralha, como se dissesse: para entender esse lugar, é preciso mais do que ver.

Mas o Monte Pascoal não está apenas no alto. Ele também se revela nas margens, nos rios, nas vilas. De cada ângulo parece uma montanha diferente. Muita gente já passou dias dentro do parque sem saber. A badalada Caraíva está inteiramente inserida na unidade de conservação. Corumbau, logo ao sul, faz fronteira com o parque e se conecta a ele por outro caminho: o Rio Corumbau.

Navegando rio acima com um guia Pataxó, o que parecia só paisagem vira lição viva de conexão. O mangue, que alimenta o mar, recebe os nutrientes da montanha. O rio nasce na floresta, desce da serra e encontra o oceano num ciclo simples, mas que só se vê quando a gente está dentro dele.

Durante o percurso, há sempre algo a aprender: como reconhecer os peixes pelo som que fazem na água, como ler as marés observando a lua, como distinguir os tipos de mangue pelo formato das raízes.

Ali está o Porto da Onça, hoje habitado apenas pelo tempo, e por uma vista rara do monte. Mas o melhor é o percurso. Porque o monte é escondido. O mangue também. As histórias, mais ainda. Mas basta procurar, que você encontra.

E na volta, se for à noite, há outro presente: com o motor desligado, o barco desliza em silêncio rio abaixo. Acima, um dos céus mais escuros do país se abre. E nas noites limpas, é possível enxergar a olho nu o centro da Via Láctea. Um caminho de estrelas sobre a água, como se o universo também quisesse apontar o monte.

Visitar o Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal não é apenas visitar um ponto onde a história do Brasil foi marcada. É reconhecer que essa história já existia muito antes. Que o Brasil não foi descoberto ali. Ele foi visto, talvez pela primeira vez, por quem não sabia enxergá-lo.

E ele continua ali, inteiro, esperando que a gente aprenda a ver.

Localização / principais pontos de acesso

  • Caraíva: travessia de canoa do rio Caraíva a partir de Caraíva Nova pela BA-283 (estrada de terra lenta)
  • Pé do Monte / entrada principal/acesso à subida do Monte Pascoal: km 0 da BR-498 (asfaltada), que é acessada no km 794 da BR-101
  • Corumbau: travessia de canoa do rio Corumbau a partir de Corumbau, cujo acesso se dá a 50km do povoado de Guarani (entre Prado e Itamaraju) em estrada de terra

Distância

  • Do aeroporto de Porto Seguro para Caraíva: 62 km, no mínimo 2h10min, em estrada de asfalto até o trevo de Trancoso, e terra até Nova Caraíva
  • Do aeroporto de Porto Seguro para o Pé do Monte: 154 km, cerca de 2h30min, em estrada de asfalto
  • Do aeroporto de Porto Seguro para o Corumbau: 202 km, no mínimo 3h50min, em estrada de asfalto até Guarani, e terra até Corumbau
  • De Caraíva para o Pé do Monte: 83 km, cerca de 1h30min em estrada de terra e asfalto passando por fora do Parque
  • Do Pé do Monte para Corumbau: 100 km, no mínimo 2h15min via Itamaraju em estrada de asfalto e terra a partir de Guarani

Dias e horário de abertura

  • Setor Litorâneo: O parque pode ser acessado todos os dias e horários, a entrada é gratuita.
  • Setor Florestal: Aberto todos os dias. O horário de entrada é entre 7h e 14h para a Trilha do Monte Pascoal e entre 7h e 15h para outros atrativos. O horário de saída é até as 17h. A entrada e saída dos visitantes fora do horário estipulado é permitida para atividades que requeiram horário especial como ritual ãgohó tibá (Lua cheia) e observação de aves, entre outros. A visitação aos atrativos é realizada com o acompanhamento obrigatório dos condutores indígenas. O visitante paga o serviço de condução e contribuição à comunidade diretamente ao condutor indígena. Pode ser feito o agendamento prévio ou contratação no momento da visita.
  • O parque faz uma pesquisa de satisfação online com visitantes: https://ee-eu.kobotoolbox.org/x/7bCK8lYL

Clima predominante

  • Época chuvosa: abril a julho; Época mais propensa a chuvas: maio e junho
  • O clima é instável, sempre intercalado com dias ensolarados, chuvas esparsas

Informações

  • Criado em 29/11/1961
  • 22.240,67 mil hectares
  • Visitação em 2023: 323.149
  • Visitação em 2024: 321.597

Observação: As visitas contabilizadas no acesso à Caraíva são compartilhadas com a Reserva Extrativista Marinha do Corumbau

Dupla proteção e gestão compartilhada

Importância para conservação

  • Protege praias, vegetação de restinga, manguezal, praias fluviais
  • Floresta de Muçununga: ecossistema de vegetação arenosa, savânica e/ou florestal na Mata Atlântica, especialmente em áreas de baixa altitude do litoral norte do Espírito Santo e sul da Bahia
  • Sítio do Patrimônio Mundial Natural, Reserva da Mata Atlântica da Costa do Descobrimento, Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Corredor Central de Mata Atlântica e o Mosaico de Áreas Protegidas do Extremo Sul da Bahia
  • Região de megabiodiversidade conhecida como Hileia Baiana, que possui espécies em comum com a Hileia Amazônica
  • Único parque nacional da região que vai até o mar
  • O Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal tem uma localização central entre os três parques, representando um importante corredor ecológico, bem como tem uma grande influência na saúde marinha

História

  • Abrange a primeira porção de terra do Brasil avistada pelos navegadores portugueses
  • É o primeiro e único Parque Nacional e Histórico brasileiro

Principais atrativos

Não deixe de ver e fazer

  • Subir o Monte Pascoal com um condutor indígena Pataxó
  • Visitar o Monumento da Resistência dos Povos Indígenas
  • Participar de uma vivência na Reserva Pataxó Porto do Boi 
  • Passear de canoa ou SUP no mangue do rio Caraíva
  • Conhecer a restinga e observar o Monte Pascoal na trilha do Porto da Onça

Reserve mais tempo para

  • Fazer um passeio de buggy e contemplar o nascer e pôr do sol das praias
  • Conhecer as árvores gigantes centenárias e o poço sagrado no Setor Florestal

Para uma experiência ainda mais completa

  • Realizar astroturismo no mangue e nas praias
  • Realizar observação de aves nas trilhas do Parque
  • Fazer a travessia do Monte ao mar a pé ou de bicicleta com condutores Pataxó
  • Participar de vivências e eventos culturais indígenas na Aldeia mãe Barra Velha e em outras aldeias do território

Detalhamento dos principais atrativos

Trilhas no Wikiloc: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=14168230

Setor Florestal / Pé do Monte

  • Monumento da Resistência dos Povos Indígenas: no local de partida das principais trilhas a 220m da portaria, criado em 2001 com uma base circular e cinco meios arcos, simbolizando os próximos 500 anos dos povos indígenas no Brasil – a outra metade embaixo do chão simboliza os 500 anos passados.
  • Trilha do Monte Pascoal: uma trilha sombreada e íngreme que sobe a 536 metros acima do nível do mar, mas curta, 1.700m (ida) e bem sinalizada, além de acompanhada por um condutor Pataxó, pode ser percorrida em 2h30 a pé (ida e volta)  possui sete mirantes  ao longo da trilha e no topo com vista para a floresta e o mar.
  • Trilha do Jequitibá: curta, com 640m (ida e volta), pode ser percorrida em 30 minutos a pé (ida e volta) e leva até essa árvore gigante e centenária
  • Demais trilhas: Poço Sagrado 900m (ida e volta), da Juerana 140m (ida e volta), da Araponga 350m, todas podem ser feitas no mesmo dia da subida ao Monte.
  • Travessia do Monte ao Mar ou do Mar ao Monte: une a floresta à parte costeira/praia em uma trilha offroad, a pé ou de bicicleta (40 km)
  • Trilha do Desafio (ciclismo): percurso de 25 km pela estrada do Setor Florestal parte da praça da resistência em direção ao setor litorâneo, fazendo o contorno pelo aceiro. 

Setor Litorâneo / Caraíva

  • Passeio de caiaque ou lancha até Porto do Boi: 3,47 km
  • Vivência, culinária, pintura corporal e conversa com os Pataxó: Reserva Pataxó Porto do Boi, com trilha interna opcional de 1,2 km
  • Travessia de buggy até Corumbau: 10,5 km
  • Caraíva guarda ares da Vila Histórica com presença de população nativa, festejos tradicionais e forró

Setor Litorâneo / Corumbau

  • Porto da Onça: trilha na restinga de onde avista-se o Monte Pascoal
  • Da praia do Bugigão ao Porto da Onça: 7,56km em buggy e 2,44km em caiaque ou barco a motor (ida); caso vá de barco, procure voltar no início da noite para observar as estrelas
  • Vivência e ritual afroindígena com as Mulheres que Curam na Aruanda Pataxó – Aldeia Pará

Pontos de contato

Saiba mais

Imagens

  • © CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL / NICO FERRI
  • DENNIS HYDE @entreparquesbr
  • LETÍCIA ALVES @entreparquesbr

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