O espetáculo ocorre em todos os momentos e por todos os lados. Ao visitar Abrolhos sentimos que éramos espectadores, que os animais, o mar, o sol, as estrelas estavam ali para nos mostrar tudo o que eram capazes. Claro que não é assim que acontece. Graças à conservação que acontece neste lugar os animais sentem-se destemidos e livres para ser o que devem ser.

Desde a primeira experiência com o parque, quando você procura informações sobre visitação, é tudo muito bem organizado. As operadoras de turismo das grandes cidades em geral não fazem pacotes para Abrolhos, é necessário contratar alguém local e com um barco. Mas uma vez com as informações de contato, fica tudo muito fácil.

Ato 1 do espetáculo: Centro de Visitantes

Chegando a Caravelas, de onde saem as operadoras, nos deparamos com um centro de visitantes do jeito que tem que ser: deixa o visitante com muita, mas muita vontade de ir até Abrolhos.

Uma réplica de uma jubarte em tamanho real (elas medem até 16 metros e pesam 40 toneladas, vivendo até 60 anos), informações sobre fauna – aérea e marítima – e uma experiência em um filme 360 graus, onde nos sentimos voando como um drone, mergulhando como um peixe e aguardando um ovo ser chocado, nos surpreenderam. Quem dera tivéssemos esse tipo de amor à primeira vista com cada um dos 74 parques nacionais, afinal eles merecem.

Abrolhos é um arquipélago que fica a 70km da costa. Das cinco ilhas do arquipélago, uma pertence à Marinha (Santa Bárbara, onde há um farol) e quatro ao parque nacional (Siriba, onde o desembarque é mais fácil, Redonda, onde o desembarque depende das condições da maré, Sueste, a maior delas onde vivem os atobás marrons mas não pode ser visitada, e Guarita, a menor e mais rochosa ilha onde vivem os beneditos que tampouco pode ser visitada.

Antes de ir dá uma sensação de perder algo por não poder descer em todas as ilhas, mas chegando lá entendemos o papel de cada uma e a importância de deixá-las intocadas, reservadas para a fauna e para alguns pesquisadores. Descer na Siriba já é uma experiência incrível, fora que o acesso a qualquer uma das outras três seria desafiador, não há praias para aproximação.

Para chegar ao arquipélago não há alternativa a não ser de barco. O trajeto leva pelo menos 3 horas. Por isso, recomendamos pelo menos um pernoite em Abrolhos de forma a aproveitar e não se arrepender por ter ficado pouco tempo.

Considerando 6h para ir e voltar, saindo às 7h da manhã e retornando às 17h, você teria no máximo 4 horas em Abrolhos, o que é muito pouco pelo que pode ser feito ali: caminhada na ilha, mergulho com snorkel, mergulho com cilindro, observar o sol nascer, avistamento de aves, avistamento de baleias jubarte.

Ato 2 do espetáculo: Baleias Jubarte

Aliás, as baleias jubarte não estão lá o ano todo, elas ficam entre julho e outubro, sendo agosto e setembro os melhores meses para observá-las. Convém, antes de ir, acompanhar a rota e conhecer um pouco mais sobre elas.

https://www.baleiajubarte.org.br/

Baleias jubarte são mamíferos, o que significa que são mais parecidas conosco que com os peixes com quem dividem os mares. Elas vêm para as águas quentes e tranquilas do nosso litoral todo ano para procriar ou para dar à luz. Então, as chances de avistar uma baleia mãe com seu filhote são enormes! É incrível como esses seres enormes ensinam seus filhotes a subir para respirar, a se comunicar e a evitar a aproximação com barcos.

Há uma série de regras para avistamento, de forma a garantir a segurança de quem avista e delas. Não é permitido mergulhar com elas e as embarcações não podem se aproximar mais de 100 metros delas. Quando avistadas entre 100 e 300 metros, os barcos devem manter o motor ligado em neutro para que elas não se aproximem tanto.

Não há nada que se compare a avistar as baleias fazendo seu show da vida. Algumas saltam para se comunicar ou disputar a proximidade com as fêmeas, outras batem incessantemente as caudas ou as nadadeiras laterais (que têm 1/3 do seu tamanho!) para se comunicar ou como sinal de força, outras simplesmente navegam, subindo frequentemente para respirar, quando conseguimos avistá-las.

Elas quase foram exterminadas pela caça indiscriminada. Das 30 mil sobraram cerca de 800. Os esforços de conservação junto com a proibição da caça fizeram com que hoje sejam quase 20 mil, e o número vem aumentando ano a ano. Um exemplo de que a natureza consegue se regenerar se dermos espaço e tratarmos com respeito.

A maior dificuldade é fotografar e filmar com o barco balançando. Mas não se preocupe! Fotos e vídeos há aos milhares por aí. Ao vê-las a emoção é tamanha que parece que a imagem fica grudada na sua retina, nem precisa de foto.

Elas batem a caudal para se comunicar

Ato 3 do espetáculo: vida embaixo d’água

Apesar de termos ido na época em que a água é mais turva (a maior transparência ocorre no verão entre janeiro e março), os mergulhos foram excepcionais. Ficamos só imaginando como seria na época ainda mais propícia ao mergulho.

A cor do mar é uma alternância de azul turquesa com verde esmeralda, um colírio para os olhos. Já ao chegar recebermos a bordo a equipe do ICMBio que vem nos dar as boas vindas e contar um pouco do parque, trazer também as regras de convivência com a natureza. Ali não se pesca, ali não se deixa lixo.

Durante a visita do ICMBio já começamos a ser visitados por outros vizinhos. São as tartarugas cabeçudas, que sobem para respirar e para dar uma espiada. De imediato já dá vontade de cair na água e observar o que mais está ali embaixo.

Com snorkel ali mesmo ao lado da Ilha Siriba, onde atracávamos todas as noites para dormir, conseguimos entender a quantidade de tartarugas: ali no fundo há um jardim de algas onde elas se alimentam. As tartarugas, assim como os peixes, não sofrem ameaças ali, por isso chegam muito perto de nós, como se fôssemos um deles.

Abrolhos fica numa extensão da plataforma continental, o mar ali é muito raso e ali está o maior recife de corais do nosso litoral. Recife de coral é onde a fauna marinha se alimenta e onde encontra descanso, por isso é tão farta. Algumas espécies de corais acontecem somente nesse litoral, como o coral cérebro.

Os peixes, em sua maioria ameaçados em algum nível, ali encontram tranquilidade: meros, badejos, budiões, barracudas. Até as arraias e as moréias aparecem nos mergulhos, estas últimas já em águas um pouco mais profundas.

Abrolhos tem mais de nove pontos de mergulhos em seu entorno, incluindo chapeirões. Perto dali mais alguns naufrágios complementam a experiência para os mergulhadores de cilindro.

Ato 4 do espetáculo: as aves

Entre as ilhas Siriba e redonda há um corredor de aves. As fragatas, que vivem na ilha Redonda, a mais alta e que foi queimada por acidente nos anos 90, cruzam logo cedo para a Siriba buscar palha para seus ninhos, e no final do dia para tentar roubar peixes que ainda estão na goela dos atobás brancos.

As fragatas não têm uma glândula sebácea que impermeabiliza suas penas. Por isso, elas não conseguem mergulhar para pescar como os atobás, que chegam a 8-12 metros de profundidade. Elas têm garras para apanhar o que fica na superfície e são muito competitivas, inclusive entre elas. O papo vermelho indica que o indivíduo é macho, quanto maior o papo, maior a chance de conquistar uma fêmea.

Os atobás brancos vivem principalmente nas ilhas Siriba e Santa Bárbara. Nesta última, da Marinha, é possível vê-las ao desembarcar no final do dia para acender o farol. Os atobás são mais colaborativos entre si. Enquanto um membro do casal sai para pescar, o outro fica chocando ou cuidando da cria. Quando saem, geralmente pela manhã, para pescar, procuram ir em grupos. Eles também seguem as fragatas que anunciam onde estão os maiores cardumes.

Os atobás marrons vivem na ilha Sueste principalmente, mas alguns encontram-se na Redonda e na Siriba. Mais desconfiados, ficam mais longe de nós.

As grazinas são ainda mais desconfiadas. Com um bico laranja forte e uma cauda fina, cuja pena era usada como ornamento em canetas, abriga-se em tocas / cavernas, sendo mais difícil avistá-la de perto.

Os beneditos vivem na ilha Guarita, onde o acesso a turistas não é permitido. É difícil vê-los de perto, mas no final do dia a revoada deles parece um verdadeiro enxame.

Como não podemos desembarcar na única ilha onde estão, os beneditos podem ser vistos somente de longe

Ato 5 do espetáculo: nascer e pôr do sol

Como se não bastasse ver baleias, nadar com tartarugas ou visitar os ninhos dos atobás, no início e final do dia o sol dá outro espetáculo. Nascendo atrás do farol e se pondo em direção ao continente, no meio do mar, não só as cores mudam, mas também os sons e a movimentação dos animais.

Os atobás anunciam o nascer do dia com a chegada das fragatas em seu território. No final do dia a mudança dos ventos inverte a posição do barco lentamente enquanto o laranja dá lugar ao preto no horizonte.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

4 comentários em “Parque Nacional Marinho dos Abrolhos: o parque do espetáculo

  1. Elisângela de Fátima Formigoni says:

    Gente como não se emocionar com tanta vida e beleza?? Que bom saber que esse paraíso está sendo tão bem cuidado. Fiquei com mais vontade ainda de conhecer.

    • dennishyde says:

      Nossa, Elis, foi um lugar muito mágico. Ficamos quatro dias e queríamos ter ficado ainda mais. E olha que não fomos na “melhor época” para mergulho, imagina como é? Quem sabe não vamos juntos na próxima! Beijos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *