Este parque nacional foi criado em 1959, quando não havia ainda uma lei das Unidades de Conservação e tampouco ainda o conceito de Terras Indígenas. Com isso, assim como o Parque Nacional Indígena do Xingu, foi criado para a proteção dos povos originários, neste caso os Karajás, do povo Javaé.

Quando o parque foi criado em 1959 os indígenas já estavam lá. Aliás, todos os registros desde os anos 1700, quando os primeiros brancos chegaram ali, informam que os indígenas já estavam lá.

Na época da criação do parque a nossa constituição não previa o direito dos indígenas à terra, o parque foi uma forma de proteger a área, mas ainda não garantia a terra aos indígenas, o que aconteceu (ainda parcialmente) em 2006.

Diferente do Xingu, que tornou-se posteriormente um Parque Indígena (deixou de ser um Parque Nacional), o Parque Nacional do Araguaia ficou sobreposto a uma Terra Indígena. A visitação, portanto, requer contato prévio com os indígenas, mas que atualmente não estão preparados para um ecoturismo ou etnoturismo. Ocorrem atividades de visitação, mas principalmente com foco em pesca.

Lá dentro, o parque faz parte da maior ilha fluvial do mundo, a Ilha do Bananal, que tem 2 milhões de hectares, mais de 13x a área da cidade de São Paulo. Essa ilha tem 1/3 de sua área inundada todos os anos, o que ocorre geralmente entre dezembro e abril, época em que os mosquitos são mais ativos.

A inundação traz a este parque uma característica ainda mais especial: há espécies do bioma Pantanal, além de já ser uma transição entre Cerrado e Amazônia. Imagina a biodiversidade?

É possível, permitido, e lindo, visitar o parque nacional mesmo sem entrar a fundo nele. Pelo norte ele pode ser acessado pelos Rios Javaés e Araguaia, mais próximo ao Parque Estadual do Cantão. Circundar o parque de barco ao amanhecer o entardecer, adentrando alguns pequenos rios é certeza de observação de muita fauna.

No rio acontece muita coisa! Começa que não é em qualquer lugar que é possível se banhar, o rio tem piranhas, jacarés e arraias. É bom estar sempre com alguém que domine a região e saiba onde podem ocorrer essas espécies, pois a água não é cristalina (relatos de alguns indígenas com quem falamos indicam que as grandes lavouras de soja rio acima estão cada vez mais assoreando o rio).

Nesse rio há muitos peixes, alguns enormes. É por isso que ocorre um turismo bastante estabelecido de pesca esportiva. Apesar de permitido, por ser no rio que banha uma unidade de conservação tão importante, acreditamos que seja uma atividade conflituosa.

O Rio Araguaia é um gigante, em alguns pontos parece um mar. E tem muitas praias, principalmente na época mais seca, de junho a setembro/outubro. O Rio Javaés, apesar de bem menor, também é enorme. Há muito o que ver e fazer pelo rio, que digam os adeptos à pesca esportiva.

Quer saber o que vimos em termos de fauna?

  • Na água: botos e tartarugas (a desova é entre setembro e outubro, fica a dica da época mais propícia a ver bichos como um todo, quando os rios secam bastante e não há mosquitos), jacarés tinga, jacarés açu, tucunarés, além das piranhas e peixes que não conseguimos enxergar (a água é turva) ou nominar. 
  • Nos céus: garças mouras, dois tipos de cegonhas: tuiuiús e cabeças seca, aves que mergulham para pescar: martim pescador, trinta réis, talha-mar, colhereiro, garças brancas, biguás (para citar alguns)
  • Nas árvores: macacos bugio, jacu cigano, iguana
  • No chão (vimos somente o rastro): onças pintadas e pardas, cervo pantaneiro, anta, capivara (para citar alguns)

Além de avistar, é maravilhoso poder acompanhar o comportamento, o momento das revoadas, a pesca e até aqueles animais que se safaram de brigas com outros.

Focagem noturna: jacarés tinga e açu

Os botos ficam ativos ou semi ativos o dia todo, dormem com um hemisfério do cérebro por vez, assim como as baleias e algumas aves migratórias. Mas é no final de tarde e começo da noite que eles ficam ainda mais ativos. Os peixes começam a pular da água, alguns chegam a cair dentro do barco.

À noite também que os jacarés se posicionam paciente e estrategicamente aguardando os maiores peixes passarem na sua frente para abocanharem sua comida.

É fácil encontrá-los, seus olhos brilham quando iluminados por uma lanterna. Até o final dos anos 70 foram muito caçados para exportação de couro, desde então sua população vem se recuperando, mas quem já estava aqui nos anos 70 diz que aqueles maiores já não existem mais. Foi uma seleção adversa, pois foram os mais caçados, os menores tiveram maiores chances de sobrevivência.

Quando você for numa focagem noturna de jacarés, não se esqueça de olhar para cima, desligar os motores. São essas coisas que não cabem em fotos ou vídeos que mais nos marcam. Descer o rio com a correnteza no silêncio dos motores, ouvindo os sons da floresta e observando as estrelas é algo inesquecível.

Transição de biomas: Cerrado e Amazônia com toques de Pantanal

Se não tem ainda como ir ao parque e conhecer a terra indígena, sua parte mais interna, também não há como ir até lá sem conhecer o Parque Estadual do Cantão. Quem nos acompanha há tempos sabe que não vamos aos parques estaduais. Não por não serem importantes ou belos, mas são mais de 200, nossa expedição levaria mais 10 anos para ser concluída.

Estamos numa transição de biomas: cerrado, pantanal e amazônia. A Ilha do Bananal é cerrado com elementos naturais do pantanal, além do fato de ficar alagada grande parte do tempo. O Parque Estadual do Cantão é do bioma amazônia, tudo isso separado por um rio. A diferença é impressionante, muitas espécies não cruzam de um lado a outro.

Ao invés de descrever como é, vamos deixar algumas imagens de ambos os biomas abaixo.

Os rios agem como espelhos e duplicam a incidência do sol. Durante a tarde faz muito calor, importante cobrir-se ao máximo para evitar queimaduras e desidratação.

Obrigado ao nosso amigo Julio pela companhia, foi uma delícia visitar o parque contigo

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

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