Se você já leu o romance épico “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa ou outra obra dele, vai saber bem que não adianta ler uma página ou um trecho para entender tudo. Isso é fato em praticamente todos os livros, mas este parque nos convida a ser um pouco mais poéticos, vamos aproveitar essa liberdade por aqui também.

Aliás, se você não leu, não se preocupe, não é um pré requisito para visitar o parque nacional. Até recomendamos que você leia uma parte antes da visita e outra durante a visita. É um livro maravilhoso que de repente te pega, mesmo sendo longo e sem separação de capítulos.

Este parque não poderia ser melhor para ter esse nome, pois nele não há muita separação de setores (capítulos), é um contínuo que precisa ser visitado e revisitado, olhado por diferentes ângulos e em momentos diferentes.

E, como a Maria Tereza Pádua muito bem documentou, este parque não foi criado do dia para a noite, o processo levou mais de uma década. E foi criado com este nome que sensibilizou o então presidente José Sarney, imortal da Academia Brasileira de Letras. Abaixo o artigo que conta em detalhes essa história.

Há alguns anos nós não sabíamos o que era uma vereda, um buriti e, talvez, o sertão. No dicionário, vereda é um caminho. No sertão, vereda é o local onde o lençol freático aflora e onde ocorre uma nascente. Mas ela pode estender-se por dezenas de quilômetros, é o caminho por onde passa a água.

É muito fácil localizar uma vereda, é só localizar onde está a linha de buritis. Palavra nova para nós também, é uma palmeira aquática, que ocorre nas veredas. Além do uso humano das folhas e caules dos buritis para construção, especialmente telhados e portas, e do óleo para consumo, o buriti é uma fonte de comida e casa para a fauna.

As araras e os macacos bugios, também conhecidos por guaribas, não só se alimentam de buritis, mas também vivem neles. Ficam geralmente entre as folhas, tanto para se proteger do sol quanto da chuva. As araras vão além: o tronco de buritis mortos fica oco e é ali onde fazem ninhos.

Os fruto dos buritis é dispersado tanto pela água quanto pela fauna. Ou seja, onde há vereda há buriti, onde há buriti há animais. Mas e o sertão?

Há controvérsias novamente. Pelo dicionário, o sertão é onde está o semiárido. Mas aqui estamos em grandes nascentes de rios, então não deveria ser sertão. Na prática, o sertão não pode ser definido, quem conhece sabe o que é, onde ele começa e termina, se é que ele tem fim.

Riobaldo, o protagonista do épico “Grande Sertão Veredas” descreve algumas possibilidades: “O sertão está em toda a parte” e “sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar”. Ou seja, é poético.

E assim é o parque, poético, difícil de descrever, é para viver um pouco nele. O turismo ainda é incipiente neste parque que, assim como Cavernas do Peruaçu, faz parte do Mosaico Sertão-Veredas Peruaçu. E geralmente os visitantes vão ao parque um único dia, para percorrer tudo de uma só vez.

Recomendamos fazer como num romance: leia um pouco, pare e reflita, deixa o livro chamar de novo, leia mais um pouco, volte um pouco para relembrar, entender melhor. São centenas (talvez milhares, não há conta feita) de veredas, algumas com 50km de extensão somente dentro do parque. Essas veredas, além de serem uma diferente da outra, mudam ao longo do dia.

Logo cedo a fauna está mais presente, levantando, barulhenta (principalmente os bugios e araras). No meio do dia está tudo quieto, se escondendo do sol forte. No final do dia a vida volta, as cores ficam ainda mais belas e os sons são outros. Permita-se ver essa mudança, sem pressa.

Há três principais acessos ao parque, um mais próximo da Chapada Gaúcha, um circuito pelo lado mineiro e um circuito pelo lado baiano, ainda não aberto ao público, mas que tivemos a possibilidade de visitar para poder documentar.

Pertinho de Chapada Gaúcha há um mirante para o sertão e suas veredas, bem como os três morros que formam os “Três Irmãos”. É uma imensidão que nos faz relaxar e admirar sem pressa. Dali sai uma trilha para subir o maior dos morros.

Uma trilha curta, mas com uma subida íngreme no final. A vista de lá é ainda mais impressionante, um 360 de onde você consegue acompanhar para onde vão as veredas ao longe. Descendo o morro dá para dar uma esticada até a Vereda Capim de Cheiro, onde vivia antigamente uma família, motivo pelo qual não está tão fechada, o que permite entra e ver a vereda por dentro.

O Circuito de Minas Gerais é o mais visitado, geralmente de forma guiada. É necessário solicitar autorização e ir até o ICMBio antes de se deslocar, as porteiras são fechadas e é recomendado ir com guia, pois há algumas estradas e é fácil se perder.

Neste parque há longos trajetos de carro, um 4×4 é recomendado por conta da situação das estradas e por ser um local bastante remoto e pouco visitado, apesar de haver rádios em pontos estratégicos.

Após admirar a Vereda Extrema e as araras que ali habitam, há uma série de encontros de rios para ver, mostrando a força que o cerrado tem em fazer a água brotar.

Falando em água, na Cachoeira do Mato Grande há uma infraestrutura de banheiro seco e um local para fazer um picnic ou mesmo armar uma rede. Só ali dá para passar um dia todo, entrando e saindo da água, admirando as aves que vêm e vão, silenciosas ou barulhentas, o dia todo.

Por mais que seja um trajeto de carro, o melhor é ficar bem atento às pegadas, sons e cheiros para poder avistar fauna. Quanto mais nos extremos dos dias, melhor. Vale ir parando, observando, caminhando um pouco, sentindo o ambiente.

A parte baiana do parque é mais recente, a expansão foi feita em 2004. Parte da área ainda não foi regularizada fundiariamente e a visitação portanto ainda requer autorização dos proprietários, que não vivem lá. Tivemos a possibilidade de visitar e o que vimos são veredas ainda mais densas e altas, verdadeiros berços de vida.

Além das veredas do Itaguari e Itaguarizinho, ali também há uma cachoeira, a da Roncadeira. Uma cachoeira com uma queda na medida para amenizar o calor do meio dia.

Acreditamos que este parque possa ser visitado por diversas camadas, de forma mais profunda ou superficial, você que escolhe!

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

8 comentários em “Parque Nacional Grande Sertão Veredas: o parque conjunto da obra

  1. Carla says:

    Olá meus queridos! Estou destrinchando o site de vocês pois estou montando um roteiro no seu rastro para desbravar alguns PARNA’s. Somos o Aventuramirim e agora nas ferias de janeiro vamos fazer os PARNAS Jurubatiba–> Todos do Sul da Bahia –> Catimbau–>Araripe–>Capivara–>Confusões–>Nascentes do Parnaiba—> Chapada das Mesas –> Araguaia –> Terra Ronca –> Gde Sertão Veredas dentre outros. Listei aqui e adoraria ter recomendações de vocês, principalmente sobre os parques menos acessiveis, se conseguiriamos visitar (p.ex. Nascentes do Parnaiba, Araguaia, Sertão Veredas). Obrigada!

  2. Reynaldo Ferreira says:

    Parabéns a vocês por divulgarem nossos parques nacionais. Sempre visitei parques que estavam nos meus roteiros. Mas, inspirado por vocês, montei um roteiro de férias quase que exclusivamente baseado em PARNAs – Sempre Vivas, Grande Sertão Veredas, Cavernas do Peruaçu, Terra Ronca e Chapada dos Veadeiros. Se pudessem me ajudar com um contato de guia no GSV eu agradeceria. Grande abraço aos dois e obrigado pelas informações que vocês disponibilizam aqui e no Instagram

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