Poucos foram os parques pelos quais passamos até agora onde havia tanta informação prévia e tanta informação nas trilhas para que pudéssemos aprender tanto e nos guiar tranquilamente. Tomamos conhecimento que nos últimos anos o parque recebeu voluntários que planejaram e executaram a estrutura de uso público, o que ficou de legado para os visitantes que vão hoje.
Também tomamos conhecimento que uma parte da área do parque é sobreposta a uma área da aeronáutica, que reformou completa e recentemente o acesso ao Morro da Igreja, tornando a visita ainda mais fácil e prazerosa, sem perder o caráter cênico ou mesmo da biodiversidade.
O nome do parque era temporário, até que a cidade de São Joaquim foi dividida em mais municípios
Se você pretende visitar esse parque, recomendamos que verifique o que está aberto, o que requer autorização e o que requer guia para aproveitar ao máximo sua visita: https://www.icmbio.gov.br/parnasaojoaquim/guia-do-visitante.html
Este parque foi criado originalmente para proteger as matas de araucárias e as nascentes do planalto sul-catarinense, mas sua importância foi aumentando à medida que as possibilidades de desenvolvimento turístico ocorreram. Apesar de Urubici ser um polo que atrai hoje turismo de natureza, muitas pessoas acabam visitando áreas fora do parque nacional. Tão bonitas quanto, mas perdem a oportunidade de visitar uma unidade de conservação que ajudou a proteger sua área e seu entorno.
O parque inclusive tem parte de sua área sobreposta ao Parque Estadual da Serra Furada (diferente da Pedra Furada) e tem algumas Reservas Particulares do Patrimônio Natural no entorno, o que ajuda a criar um mosaico de unidades de conservação de suma importância para a região.
O que saber e fazer antes de ir ao Parque Nacional de São Joaquim
- O parque não fica na cidade de São Joaquim, mas fica próximo; também fica próximo ao Serra do Corvo Branco e à Serra do Rio do Rastro
- A maior parte das trilhas é autoguiada e está explicada no site do parque
- A visita ao Morro da Igreja, Pedra Furada e Nascentes do Rio Pelotas requer autorização; a trilha da Pedra Furada requer acompanhamento de condutor credenciado
- Com exceção do Morro da Igreja, todos os demais acessos são por estradas de chão, mas não vimos necessidade de 4×4
- Não há estrutura de banheiros, restaurantes e lanchonetes no parque
- O parque é enorme, é fácil perder a dimensão e a conexão entre os locais
- O parque é diverso: rios, cachoeiras, planalto, morros, vista de cânions, florestas de araucárias, florestas de xaxins
- Em alguns pontos mais altos há sinal 4G, mas na maior parte do parque não há
A maior base para acessar o parque está em Urubici. De lá é possível chegar até o Morro da Igreja e demais trilhas próximas em 20-30 minutos por estrada asfaltada; de lá também é possível chegar até a Comunidade Rio do Bispo / Terras do Sul em 30-40 minutos, com o final por terra; Vacas Gordas e Bom Jesus da Serra ficam para o lado oeste e há um trecho mais longo em estrada de terra.
Núcleo Morro da Igreja: 20-30 min de Urubici – requer autorização do ICMBio
O acesso ao núcleo do Morro da Igreja é pela estrada que leva até a base da aeronáutica, recentemente reformada. Todos os pontos deste núcleo requerem autorização do ICMBio para visitação, por coincidir com área militar. O acesso é feito facilmente pelo site e a autorização física deve ser retirada no escritório do ICMBio na cidade de Urubici. Sem a autorização, o acesso será negado na portaria do parque.
A vista do Mirante do Morro da Igreja é linda e ampla, mas acaba não mostrando a face do morro que se pareceria com uma igreja. Isso não minimiza em absoluto a beleza e a imponência do morro, mas abre a perspectiva para que possamos avistar o perto vs o longe, as belezas da serra como um todo.
De lá também é possível ver a Pedra Furada. Deste ponto, parece pequena, mas uma trilha que começa passando pelos urtigões, por uma parte de turfa (falaremos mais sobre ela em seguida) e por uma mata nebular, que colhe umidade das nuvens, leva até essa formação. Somente de lá é possível ter a dimensão da abertura que a água e o vento abriram nessa pedra para escavar esse furo.
Ao longo da trilha chama a atenção a vegetação de campos sulinos e suas singelas flores, bem como a vista para o Cânion das Laranjeiras e Serra do Imaruí, onde está sendo estudada uma nova trilha.
Ainda no mesmo acesso para o Morro da Igreja e trilha da Pedra Furada é possível fazer a trilha das Nascentes do Rio Pelotas. Apesar do nome, esse rio nada tem a ver com a cidade homônima do RS. Ele divide os estados de SC e RS e desemboca no Rio Uruguai, a maior bacia hidrográfica do RS. Interessante como o que é protegido em um estado faz muita diferença em outro.
Essa trilha foi muito especial. Começamos com um dia em que o nevoeiro predominava e não era possível enxergar muito além de uns 5 metros. Percebemos que andávamos por uma área encharcada, mas somente ao caminhar mais adiante juntamos a informação que lemos na indicação da entrada da trilha com o que estávamos vendo e sentindo: estávamos andando nas nascentes propriamente ditas.
A vegetação pela qual passamos grande parte da trilha era a turfa. É uma cobertura vegetal que atua como uma esponja, absorvendo e retendo água da chuva e da umidade do ambiente. Ou seja, não havia um local onde a água “brotava” ou onde duas partes de hidrogênio se combinavam com mais uma parte de oxigênio formando H2O. É tudo um grande ciclo da água que faz com que as condições para chuva e umidade ocorram, que a água seja armazenada e lentamente devolvida ao ciclo pelos rios.
Caminhar por tudo isso foi uma experiência em si, de forma que a maravilhosa vista do final da trilha acabou sendo até ofuscada pelo que vimos das nascentes.
Comunidade Rio do Bispo / Terras do Sul: 30-40 min de Urubici
Não muito longe de Urubici, no sentido do Serra do Corvo Branco, está a comunidade Rio do Bispo, ou Terras do Sul. O acesso no final é um pouco mais esburacado, mas há local para estacionamento, além de um camping e um restaurante na beira da entrada do parque nacional.
Por ali é possível visitar tanto o Morro Comprido quanto a Cachoeira do Arroio da Boca da Serra e demais atrativos ao longo do Rio do Bispo.
A trilha para o Morro Comprido começa cruzando duas vezes o rio, mas depois torna-se íngreme e praticamente sem sombra. Ao contrário do que ocorreu nos demais dias, neste dia não ventou e o calor estava muito forte. A vista ampla da Serra Geral compensa a subida, mas recomendamos uma pausa na volta para tomar um banho de rio, além de apreciar as araucárias que restam na parte de baixo da trilha.
Subindo a trilha que margeia e corta algumas vezes o Rio do Bispo é possível chegar até a Cachoeira do Arroio da Boca da Serra. Como havia chovido muito nos dias anteriores e lemos atentamente as orientações de segurança no site e na entrada do parque, decidimos não realizar uma das cruzadas para não nos arriscarmos em caso de mais chuva, quando a água poderia ficar acima da altura da cintura e facilmente nos arrastar. Uma pena, mas isso abriu espaço para conhecermos o Morro da Cobra e a Curva do Rio.
Por esse lado há uma formação como uma parede enorme e fina onde forma-se um poço para banho. Na volta da trilha, ainda demos de cara com uma irara (http://www.ra-bugio.org.br/ver_especie.php?id=58), que fugiu, assustada. Soubemos que o nome dela deriva do tupi de “tomar mel”. Esta é uma região onde há muita apicultura, logo as iraras são atraídas. Mas muitas são mortas envenenadas pelos produtores de mel, infelizmente.
Vacas Gordas / Recanto Santa Bárbara: 1h de Urubici
No Recanto Santa Bárbara há um circuito de trilhas que pode ser feito por inteiro ou em partes, dependendo do pique e do que quer ser visitado. Fizemos a trilha completa em sentido horário, uns 16km. Começa pela Cascatinha, onde nos deparamos com um grupo de gralhas azuis. Seguimos pelas três quedas, um belo conjunto de cachoeiras bastante próprias para banho, com a mata de araucária de um lado e os campos sulinos de outro.
Depois subimos um “paredão” íngreme com campos de altitude e arbustos até chegar ao platô de cima, de onde havia uma bela vista das nuvens e das matas lá embaixo. Descendo pelo outro lado, passamos na parte mais impressionante: uma mata de xaxins.
Nunca havíamos visto algo igual, aos poucos percebemos que o caminho para a cachoeira do xaxim passava por uma mata que tinha somente xaxins. Além de uniforme, nos impressionamos com a largura dos xaxins, nos perguntamos se isso seria natural. Por sorte, na casa sede havia dois biólogos pesquisadores, que nos contaram que essa era uma formação original e que inclusive tinha mais ocorrência antigamente, quando o xaxim não havia sido massivamente extraído. Não soubemos como essa área foi protegida, mas é realmente um tesouro ir até lá e conferir com os próprios olhos. Esse é justamente o pedaço mais fácil da trilha.
Bom Jardim da Serra / Cânion das Laranjeiras: 1h30 de Urubici
Chegando à propriedade que dá acesso ao cânion, a Dona Zuê nos recebeu e perguntou se havíamos ido de carro desde o Recanto Santa Bárbara. Não conhecíamos esse caminho, então não fizemos. Mas fica a dica, entendemos que o carro sofre um pouco mais e um 4×4 é recomendado neste caso.
A trilha é auto-guiada e tranquila, passando por uma parte um pouco alagada. A chegada ao cânion é por cima e é possível avistar a imensidão desses paredões por vários ângulos. Vínhamos chegando de Aparados da Serra e Serra Geral, conhecidos pelos cânions. Não tínhamos a ideia e a dimensão do que veríamos aqui.
Na nossa visão, esse parque é muito bem estruturado para uso público. O que falta mesmo é mais gente saber, visitar e, com isso, conservar esse lugar tão especial.
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima: