Poucos parques nacionais no Brasil têm uma infra-estrutura como o Parque Nacional da Serra da Capivara. São centenas de quilômetros de estradas que levam aos quatro cantos do parque. São centenas de sítios arqueológicos com pinturas rupestres e escavações. São dois museus, que ficam fora da área do parque, mas que estão intimamente vinculados a ele.

A história deste parque explica o que aconteceu. Nos anos 70 uma arqueóloga brasileira chamada Niede Guidon, que na época era professora na França, foi apresentada a umas fotos de pinturas rupestres na região e foi visitar. Por sucessivos anos, ela voltou com seus alunos e foram estudando mais e mais.

Ela estruturou a FUNDHAM (Fundação do Homem Americano), que captou recursos tanto para a pesquisa quanto para o desenvolvimento do parque e do entorno ao turismo e conservação. É claro que quanto mais tempo passava e mais o local era estudado, mais pessoas integraram a equipe e fizeram tudo isso juntas.

Tivemos o prazer de conhecer a Dra. Niede, que vive aos fundos do Museu do Homem Americano. Ao agradecê-la pelo seu trabalho e resultados, ela nos respondeu: “Eu fiz o que devia fazer, como pesquisadora e responsável pela proteção do parque”. Uau, se há algo que alguém quer chegar aos 90 anos e poder dizer, é isso.

Não vamos dedicar este relato à Dra. Niede, mas recomendamos que você procure saber sobre ela e seu trabalho. O ponto que queremos deixar é que graças aos esforços dela em colocar a mão na massa e a cara a tapa para conseguir recursos, aqui. Foi e continua sendo a ciência feita por alguém com visão turística e pela comunidade que hoje temos aqui:

  • O maior sítio arqueológico de pinturas rupestres do mundo
  • Evidências que subsidiam a hipótese de que o homem chegou à América do Sul antes de ter cruzado o estreito de Bering
  • Dois museus
  • Dezenas de guias, restaurantes, hotéis e pousadas funcionando para permitir o turismo
  • Um aeroporto
  • Uma fábrica de cerâmica
  • Uma das regiões com maior produção de mel orgânico do mundo
  • Entre tantas outras diretas e indiretas

É muito difícil separar este parque em atrativos ou locais. Afinal, você pode passar uma hora ou uma semana inteira em cada uma das serras. Haverá sempre sítios arqueológicos, uma formação geológica ímpar, uma flora e fauna muito bem protegidas.

E não tem jeito: ver pinturas rupestres sempre nos deixa com algumas pulgas atrás da orelha.

Na Serra da Capivara não podia ser diferente, afinal este é o maior sítio de pinturas rupestres do mundo. Não é só a quantidade que importa, mas aqui encontram-se diferentes tradições e estilos.

  • Tradições: Geométrica, Agreste (sem movimento) e Nordeste (com movimento)
  • Estilos: Serra da Capivara (figura preenchida), Serra talhada (figura vazada) e Serra Branca (figura com desenhos dentro).

Não há manual de instruções que explique se o mesmo povo fez todas, se foi em épocas diferentes, por motivos diferentes, ou simplesmente de forma casual. Quem as fez não está mais entre nós para nos contar.

Mesmo que tenham sido os ancestrais dos indígenas – o que não se sabe, pode ter sido um outro povo – há vários elos perdidos.

Vamos então dividir entre os principais “setores” do parque, mas lembre-se de que o que vimos e relatamos é uma pequena parte do que o parque tem e pode ser visto.

Circuito do Boqueirão da Pedra Furada

O circuito do Boqueirão da Pedra Furada acaba sendo o mais visitado do parque. O acesso é pela cidade de Coronel José Dias e ali há inclusive um centro de visitantes e uma lanchonete.

O sítio mais conhecido é o do Fundo do Baixão da Pedra Furada, onde havia uma forte cachoeira antes que esta região sofresse uma mudança na vegetação há cerca de 10 mil anos. Ali foram feitas algumas das escavações mais profundas, os artefatos encontrados evidenciam que o homem estava presente lá há pelo menos 29 mil anos.

É ali onde estão algumas das pinturas mais icônicas e conhecidas do parque. O sítio pode ser visitado de dia ou à noite. É necessário avisar com antecedência caso você queria visitar o sítio iluminado, o que é cobrado por grupo ou por pessoa.

A Pedra Furada é um outro ícone desta região do parque, onde há cânions que podem ser observados desde mirantes como o das Mangueiras.

Circuito do Sítio do Meio

A entrada para o Sítio do Meio é a mesma do Boqueirão da Pedra Furada. Além das pinturas em si, chama a atenção aqui as formações rochosas. Esta área foi fundo de mar há centenas de milhões de ano. Os seixos foram depositados nas épocas em que mar estava mais forte, a areia quando o mar estava mais calmo.

É por aqui que também é possível subir a nova escada que leva até o topo da serra de onde há uma vista dos cânions e a Trilha do Pedro Rodrigues.

Circuito da Chapada

O circuito da Chapada por ser visitado por carro 4×4 partindo da Serra Vermelha, mas também é possível chegar até lá a pé, subindo do Sítio do Meio e descendo a nova escadaria. De lá você pode apreciar a vista até locais mais longe, como o desfiladeiro, além de observar a fauna que vive no topo da serra, como os urubus-reis e as águias-chilenas.

Circuito do Desfiladeiro da Capivara

O circuito do Desfiladeiro é um caminho só de ida, a gente entra em uma portaria e vai descendo de carro passando por diversos sítios até chegar à saída em outro ponto. Ao longo do caminho, além de observar as dezenas de sítios arqueológicos, dentre eles a Toca do Paraguaio, o primeiro mostrado à Dra. Niede Guidon, vale a pena passar na Toca do Inferno e no Baixão da Vaca.

Na Toca do Inferno você entra no que já foi o curso de um rio caudaloso e sente a diferença na vegetação e na temperatura do local.

No Baixão da Vaca você caminha pelo fundo de um canion, que depois pode ser subido até apreciar a linda vista e a descida pelas Tocas de Cima e do Veadinhos Azuis.

Circuito da Serra Branca

O circuito da Serra Branca é o mais distante de São Raimundo Nonato e de Coronel José Dias. Dá a sensação de estar em um museu ao ar livre. À medida que você avança de carro, aparecem tocas de ambos os lados com pinturas belíssimas.

É lá também onde fica o único olho d’água do parque e a Toca do José Sabino, onde até os anos 70 acontecia o mais famoso forró da região.

Pois é, este parque conta não somente a pré história, mas há muita história. Os indígenas que viviam ali foram dizimados logo no início da colonização portuguesa. No século XX viviam muitas famílias nas tocas plantando mandioca e fazendo farinha, há ainda alguns fornos de farinha em muitos locais.

Circuito da Serra Vermelha

O circuito da Serra Vermelha geralmente é visitado no final do dia, na volta da Serra Branca. Mas não se engane, a beleza que há ali é bem diferente. Recomendamos ir até a variante da Serra Vermelha antes de ir até o local onde ocorre o Baixão das Andorinhas.

Trilha Interpretativa Hombu

Ficamos com a impressão de que esta é uma das trilhas menos visitadas do parque nacional. De fácil acesso a partir do Sítio do Mocó em Coronel José Dias, é uma trilha onde há um rico material contando da natureza, pré história e história do local.

Ali também fica um sítio-escola, usado por alunos de arqueologia, bem como há uma enorme pedra caída, onde embaixo dela há também um sítio com vista para a imensidão da planície.

Vale lembrar que apesar de esta região ter presença humana tão presente, as pinturas foram muito bem protegidas porque acreditavam que teriam sido feitas por indígenas e que estariam almadiçoadas. Por isso, ninguém as tocou ou apagou.

Museu do Homem Americano

A gente recomenda ir aos museus antes de ir ao parque, para aprender sobre o que você verá. Mas é claro que isso é pessoal e os museus abrem somente à tarde.

O Museu do Homem Americano é mais antigo, mas o seu conteúdo não envelhece. Ali você aprende sobre como o homem teria chegado até esta região, vê vídeos sobre as narrativas formadas pelas pinturas rupestres e artefatos retirados através de escavações feitas no parque, como um crânio, pedras polidas, fogueiras e até urnas funerárias.

Na saída do museu há uma loja com produtos feitos aqui com temas da Serra da Capivara, principalmente cerâmicas e camisetas.

Museu da Natureza

O que seria um museu da Natureza, se tudo é natureza? Seria um museu sobre tudo? É um museu sobre a vida, sua origem e sua evolução no planeta e aqui na Serra da Capivara. Fósseis de megafauna e uma mistura de Geologia, geografia, história, paleontologia, biologia, para citar alguns, estão lá.

Este museu é mais novo e fica ali em Coronel José Dias, ao final dele há uma linda réplica de um esqueleto de uma preguiça-gigante.

Tem também uma simulação de voo de asa delta pelos canions, voando ao lado dos urubus. A gente até tentou copiar com nosso drone (importante: precisa pedir autorização, hein?), mas só indo lá para ver e sentir o que é de verdade.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

3 comentários em “Parque Nacional da Serra da Capivara: o parque da ciência e lazer

  1. thássio says:

    Pessoal, parabéns pelo site, muito incrível! Cheguei aqui buscando infos sobre a serra da capivara e como também adoro parques, já salvei o site para pegar dicas de outros destinos! Se puderem, gostaria de fazer algumas perguntinhas sobre a Capivara, já que tem sido difícil encontrar informações…:

    1) Quais paisagens (mirante, trilha etc.) vocês acharam mais imperdíveis (ou, por outro lado, quais não impressionaram? são tantas opções de circuitos, sítios etc. que fica difícil escolher…)

    2) Se hospedaram em SRN ou no Mocó? Algum comentário a respeito..?

    3) Recomendam algum guia específico, para a Capivara ou para as Confusões?

    4) Sentiram muita diferença em estar de carro próprio? estou na dúvida entre alugar em petrolina (mais liberdade/flexibilidade; sair pra jantsr de noite, sei lá) ou contratar todos os transportes (gosto da ideia de nao ficar dirigindo, rs)

    Valeu!! 🙂

    • dennishyde says:

      Oi Thássio, obrigado pela mensagem.
      Sobre as paisagens, difícil dizer, mas eu não perderia, além do básico, o Boqueirão da Pedra Furada iluminado à noite e o baixão das Andorinhas. Isso além dos museus e sítios. Ficamos semanas por lá, nossa restrição para visitar mais era orçamento, dado que guia é obrigatório.
      Recomendamos ficar em Coronel José Dias no Sítio do Mocó, é uma delícia de ambiente e está ao lado do parque.
      Fomos guiados pelo Nestor, na Capivara, e pelo Jadiel, nas Confusões. Somos suspeitos, adoramos ambos. Para não deixar o contato deles aberto aqui, manda um email no entreparquesbr@gmail.com e mandamos para você.
      Nós achamos super importante estar com carro próprio, tanto pela liberdade quanto pelo fato de que sai caro um guia com carro e há poucos guias que têm carro. Alguns têm motos e levam somente mais um. Se puder, vá de carro, as estradas são ótimas.
      E manda um email pedindo os contatos, te mandamos por lá, abraços

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