Pelo nome do parque, você já imagina o que vai ver: a nascente de um rio. Parece óbvio, não é? Mas, no final, não é nem um pouco óbvio: apesar de haver uma nascente, ela é bem única e há muito mais que ela no parque.
O parque não é só a nascente do rio Parnaíba em si, é a nascente dele e de seus principais afluentes, alguns que nascem a dezenas de quilômetros de distância, mas vão se encontrar depois de centenas de quilômetros, como o Gurguéia e o Uruçuí Vermelho.
O formato da nascente é surpreendente: ela simplesmente brota do nada, já com força. Um rio que já nasce grande, fundo, correndo com avidez. Parece nascer com pressa para percorrer seus mil quilômetros e desembocar no único delta das Américas, separando sempre os estados do Maranhão e Piauí.
Pela importância do rio, tanto os maranhenses quanto os piauienses dão muito valor a ele, mas ele tem uma importância continental. Afinal, parte dos sedimentos que são levados até o delta voltam ao continente através do vento, formando parte dos Lençóis Maranhenses.
Há uma abundância de fauna na área desse parque. Os mamíferos preferem ficar na parte alta na época chuvosa e descem para os brejos na época mais seca, em busca de alimento.
Infelizmente, ano a ano há menos água e menos animais na área do parque. Estima-se que nos últimos 20 anos reste apenas 1/3 da água que havia antes, nascentes secaram. Avanços de grandes propriedades produtoras de soja e, mais recentemente, desmatamento para instalação de painéis solares, têm degradado o ambiente natural de uma forma rápida e profunda.
Esse parque é o único que fica entre quatro estados, separando as regiões Nordeste e Norte: Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins. Os principais acessos estão pelo Piauí, mas é possível, com um veículo próprio e muita disposição, percorrer os quatro estados.
Acessamos o parque por duas cidades: São Gonçalo do Gurguéia e Barreiras do Piauí
O acesso, já avisamos de antemão, não é fácil, recomendamos usar um veículo traçado e procurar pernoitar no parque. Como ele é enorme, ir e vir no mesmo dia é possível, mas fará com que você aproveite menos. Se pernoitar, conseguirá conhecer com mais calma e a profundidade que esse parque merece. Abaixo daremos algumas ideias.
De São Gonçalo do Gurguéia é possível visitar as nascentes dos rios Gurguéia e Uruçuí-Vermelho, ambos afluentes do Rio Parnaíba. As nascentes são compostas de brejos e veredas, onde fica armazenada a água das chuvas, que caem principalmente entre dezembro/janeiro e abril/maio. A água é captada, armazenada e liberada aos poucos durante o ano todo.
Além disso, há diversas serras que podem ser visitadas, de onde a vista se perde: é tudo parque, estamos no maior parque do Cerrado brasileiro. As vistas da Serra Vermelha e do Morro da Cascavel dão essa dimensão.
Além dos brejos das nascentes, há também os brejos do Ouro e do Favero, por onde passamos e avistamos muita fauna. Prepare-se: há uma profusão de araras, das canindé, das vermelhas e das pretas (que são azuis, mas são chamadas assim para diferenciar das araras-azul-de-lear que vivem em outra região).
A melhor época para avistamento de fauna, inclusive do lobo guará, é entre maio e julho/agosto. Quando a parte de cima da serra seca e os animais descem em busca de água de de frutos. Veados, macacos-bugio, catetos (porcos do mato), até a onça pintada vive ali.
A melhor base para acessar o parque por esta região é no Paraíso da Araras. O seu Lourival trabalha há décadas apresentando o local a turistas, principalmente estrangeiros, que passam alguns dias por ali. Nos meses em que não há visita, o seu Lourival faz um trabalho incessante para conservação da área, que vai desde educação ambiental com o entorno até auxiliar quando há incêndios, passando por ajudar as pessoas do entorno para que não cacem a fauna ou desmatem a mata que resta.
De Barreiras do Piauí você chega às nascentes do Rio Parnaíba e à cachoeira do Sussuapara
O outro ponto para acesso ao parque é via Barreiras do Piauí. Por lá você acessa a nascente do Rio Parnaíba propriamente dita e algumas cachoeiras, dentre as quais a do Sussuapara.
Prepare-se: o caminho é duro. São 100km de estrada de terra que percorremos em 6 horas. Para ir e voltar no mesmo dia, são 12 horas dirigindo. Nossa dica é procurar um guia que conheça bem a região e que aponte um local onde há um rancho, quase chegando à cachoeira, para pernoitar. Assim você consegue aproveitar mais, dividir o tempo de carro em dois dias.
Afinal, aqui há muito que ver. Os brejos e buritizais estão presentes deste lado também. Em cada um há uma nuance e uma chance de topar com uma ave ou um mamífero diferente.
Nascente do Rio Parnaíba
A nascente do Rio Parnaíba requer uma caminhada de uns 3-4km, em um terreno plano e com trilha bem batida. Chegando lá, a força do rio já está presente. Ele nasce “do nada”, por baixo de uma abertura na pedra. Parece que ele vem de longe e abriu aquele buraco para fazer-se notado.
Na nascente a altura das árvores muda, ficam enormes, e há uma umidade que permite que musgos e samambaias, não comuns aqui, se desenvolvam. Cristalino, forte, profundo. Como é uma nascente, não devemos entrar, pois podemos sujar e de alguma forma reduzir o fluxo do nascimento do rio.
Cachoeira do Sussuapara
Mas dá vontade de se banhar. Voltando pela estrada há diversas cachoeiras, mas a do Sussuapara se destaca. Uma curta trilha que cruza o Rio Parnaíba por uma ponte de madeira leva até a cachoeira. Um poço enorme para banho, uma queda que pode ser admirada tanto de frente, quanto indo atrás onde há uma espécie de gruta, cheia de vegetação.
Se por um lado a gente sente que conheceu muito bem este parque, tanto através das histórias e vivência do seu Lourival quanto pela imensidão que vimos, pela quantidade e variedade de fauna, sentimos que conhecemos pouco.
Ou melhor, ficamos com vontade de ficar mais por lá, pernoitar no parque. Mas tomamos conhecimento de algumas possibilidades somente quando chegamos lá. Então, como você que está lendo já terá mais informações que nós quando for, esperamos que possa visitar este parque com calma e aproveitar bem seu potencial, sua beleza e sua riqueza.
Nós voltaremos na época em que os lobos descem a serra e as araras já terão tido suas crias para vermos este parque com outros olhos, mas tão animados como da primeira vez.
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:
Tem como publicar o contato do seu Lourival?
Olá Edvard, tudo bem? Manda por favor um email para entreparquesbr@gmail.com e mandamos por lá para não deixarmos pública a informação dele, sem controle dele. Abraços
Letícia e Dennis, muito bonito o trabalho de voces. Tenho também um grande interesse em nossos parques naturais, mas não os conheço tão bem como vocês. Além de livros, publico regularmente uma coluna no portal Alta Montanha, por favor consultem sob meu nome de Alberto Ortenblad. Acabo de voltar de uma visita (muito corrida) ao PN Nascentes do Parnaíba. Pegunto se posso usar umas duas fotos desse artigo. Moro em São Paulo e oportunamente gostaria de conhecê-los. Parabéns! Alberto e Alessandra.
Olá Alberto, muito obrigado! Pode usar sim, só dar os créditos para entreparquesbr. Vamos procurar sua coluna! Abraço e boas trilhas