Já havíamos visitado este parque em 2018, quando começamos a pensar no que acabou se tornando esta expedição. Na época não sabíamos exatamente o que era um parque nacional e tampouco seus limites. Mas vimos, antes de chegar ao parque, uma imensidão de soja com muito pouca área nativa. E, quando saímos, os efeitos da represa no Rio Tocantins para o que é hoje a hidrelétrica de Estreito.

Havia algo estranho nessa dicotomia, parecia uma falta de balanço. Como pode haver algo tão bem protegido e logo ao lado tanta mexida do ser humano para outras atividades, colocando o ambiente natural numa das menores prioridades.

Na escola aprendemos que hidrelétrica é energia limpa, que deveríamos nos orgulhar que o Brasil tinha essa matriz energética principal. Ao ver o impacto que o lago de uma hidrelétrica causa, nossa visão muda. Podemos até falar de renovável até algum ponto, mas ela certamente não é limpa.

Uma floresta inteira foi submersa, algumas árvores de maior valor foram previamente retiradas e outras mantidas para apodrecer embaixo da lagoa. O apodrecimento de árvores assemelha-se a pântanos, o que libera gás metano, que tem 11x mais carbono equivalente que o gás carbônico. Isso tudo sem dizer do impacto em perda de biodiversidade de flora, de fungos e de habitat para a fauna.

Não sabíamos disso tudo, mas fomos aprendendo. O nosso feeling estava correto. Foi para conter o avanço da monocultura e evitar que a Cachoeira de São Romão fosse submersa para a construção de uma hidrelétrica que esse parque foi criado. Na verdade, foi para proteger uma das poucas áreas que restavam.

O parque veio tarde, a primeira proposta de criação foi nos anos 70, ele foi criado em 2005. Nesse meio tempo muito se perdeu e muito mais complexidade foi agregada. Mas que bom que ele está aí.

Do ponto de vista de atrativos, este parque tem poucos abertos no seu interior

No seu entorno foram desenvolvidos complexos de cachoeiras com restaurantes e pousadas, alguns com mais e outros com menos requinte.

Fato que não dá para ir até lá e não curtir o que o parque pode oferecer diretamente, no seu interior, e indiretamente, no seu entorno. Sem o parque, não somente os atrativos turísticos do entorno estariam comprometidos, como muito do ambiente natural, da flora e da fauna.

O parque é enorme, tem aproximadamente a área da cidade de São Paulo

As estradas internas são boas, mas requerem carros altos e 4×4 na época mais seca. Os caminhos são longos e ainda não há trilhas delimitadas para conhecer o parque a pé.

Com isso, é mais difícil curtir as diversas vistas das formações em formato de mesas e a fauna. No cerrado a fauna costuma aparecer mais no início e final do dia, além da noite. Mas as araras vermelhas e os papagaios passam o dia todo gritando e maravilhando quem quiser admirá-las.

Este parque está na rota do turismo e é visitado o ano todo. Recomendamos ir em dias de semana, caso contrário você corre o risco de visitar o Encanto Azul, por exemplo, com mais 150 pessoas, o que muda completamente a experiência.

Na área do parque quatro cachoeiras são visitadas, duas delas com infraestrutura de receptivo e, portanto, cobrança para acesso: São Romão e Prata.

A Cachoeira de São Romão fica mais acima que a do Prata no Rio Farinha, o principal que corta o parque. Ela poderia ser considerada uma catarata pelo impressionante volume de água que carrega. O acesso é por uma escada, mas não há acessibilidade a cadeirantes ou pessoas com dificuldade de locomoção.

Chegando lá embaixo há um amplo lago para banho. A força da cachoeira é tamanha que não é possível entrar embaixo da queda, há risco de afogamento. Isso não reduz a experiência, já que o banho no lago com a vista da cachoeira rodeada de flora é linda. Também há caiaques para alugar e passear pelo lago. E, para os mais aventureiros, é possível ir atrás da queda d’água para ver a cachoeira de trás para frente: incrível a força da água.

A chegada até a Cachoeira do Prata é pelo lago de cima. Percorre-se uma curta trilha até chegar até a vista da cachoeira. A força é tamanha que tampouco é possível entrar embaixo da queda d’água, mas há uma ilha para a qual é possível atravessar segurando uma corda para não ser levado pela correnteza. De lá é ainda melhor para admirar o espetáculo.

Essas duas cachoeiras estão na mesma rota, de forma que em geral uma é visitada pela manhã e outra no final do dia. Nesses locais não há pousadas, mas é possível conversar com os proprietários para acampar. Com isso, pode ser possível admirar o baixão das andorinhas na cachoeira São Romão no final do dia e aproveitar ainda mais o caminho entre elas ao longo do dia.

As outras duas cachoeiras dentro da área do parque não têm infraestrutura como banheiros e restaurante/lanchonete: Gavião e Sinduca.

A primeira é bastante visitada pelo pessoal local aos finais de semana, a segunda é menorzinha, mas não menos bela. Por estar em locais remotos e sem qualquer comunicação, é importante ter ciência dos riscos ao visitá-las, não se arrisque. Se não estiver seguro, procure um guia local.

Ainda há poucos atrativos abertos no interior do parque para serem visitados, ao contrário do que há no entorno

Nos cinco anos entre nossa primeira visita e hoje não foram criados novos pontos de visitação na área do parque. Muito deve-se à regularização fundiária, mas acreditamos que há formas de parcerias que poderiam ser desenvolvidas. Afinal, São Romão e Prata não foram regularizadas fundiariamente e pertencem a particulares que cobram pela sua visitação.

Esperamos que este parque tenha um consistente aumento no uso de seus locais de visitação. A região é visitada o ano todo por turistas de todo o país e do exterior, o que mostra que há demanda. Se tivéssemos visitado somente o parque, teríamos parado por aqui.

Mas, como a região já desenvolveu o turismo principalmente de cachoeiras no entorno, fomos visitar e aproveitar. Em geral os parques nacionais concentram os atrativos, há um ou outro fora. Aqui está invertido ainda. No entanto, se não fosse o parque, os atrativos do entorno não teriam o benefício da natureza. É um serviço direto e indireto que o parque presta a todos nós. E por nós incluímos seres humanos e não humanos.

No entorno do parque há um sem-número de atrativos a serem visitados, a maior parte deles cachoeiras

Logicamente não visitamos todos, até porque muitos estão sendo mapeados. Destacamos alguns mais próximos a Carolina e dois mais próximos a Riachão que visitamos.

No Complexo do Santuário há algumas opções de cachoeiras para serem visitadas. Além de restaurante e de piscinas, ali há pousada e casas para alugar. É permitido visitar sem estar hospedado, mediante o pagamento de uma taxa. No entanto, a visita à belíssima Cachoeira do Santuário acaba sendo bem rápida com o grupo. Dá para aproveitar, mas gostaríamos de ter ficado mais.

Do Complexo Encontro das Águas é possível visitar a Cachoeira do Capelão. O esquema é diferente, não há limite de tempo para ficar lá. Esta é uma cachoeira que esculpiu sua própria queda em meio à pedra, belíssima e de temperatura ótima.

Uma das mais belas cachoeiras tem acesso gratuito: do Talho. Para chegar até ela é necessário fazer uma trilha íngreme, mas curta, e depois subir o curso do rio. Chegando lá, um belo poço com uma árvore que cresceu de forma a completar a paisagem. Nadando para o fundo vimos que havia mais um poço e depois uma queda d’água escondida, uma preciosidade.

Para quem quiser fazer trilhas, há algumas opções. Subir o Morro do Chapéu de forma auto guiada, com uma bela vista do parque e do Rio Tocantins.

Outra opção com caminhada mais longa é a Trilha Raíz, que sai do camping de mesmo nome e percorre uma antiga e histórica trilha feita por moradores que levavam por ali a farinha de mandioca até a BR que leva à cidade. Além de passar por belas paisagens com os paredões da chapada, ainda passamos por duas cachoeiras, do Magela e do Tapulho, esta última esculpida em meio ao arenito.

E a trilha mais conhecida e percorrida é do Portal da Chapada. O preço para o amanhecer é mais alto que para o restante do dia, vale a pena ir a qualquer momento. A trilha em si pelo cerrado é linda e cheia de vistas deslumbrantes, no final dela fica o portal, que é um furo em uma pedra voltado para o Morro do Chapéu.

Pelo lado de Riachão estão dois cartões postais que frequentemente são identificados erroneamente como sendo dentro do parque nacional: Poço Azul e Encanto Azul.

O Poço Azul é um local com restaurante e pousada. Ali, além de uma trilha por diversas cachoeiras, há o Poço Azul e a Cachoeira de Santa Bárbara. É possível visitar sem estar hospedado, mediante o pagamento de uma taxa.

O Poço Azul, como o nome indica, é cristalino quando não chove. É um poço fundo, rodeado de pedras e belas cachoeiras. Dá para passar o dia ali admirando, mergulhando. Vale lembrar que aos finais de semana centenas de pessoas visitam.

Ainda no Complexo do Poço Azul é possível visitar a Cachoeira de Santa Bárbara. Apesar de não ser permitido banho, quem visita sai molhado, dada a força da água. Há uma gruta ao lado, tudo rodeado de árvores altíssimas e belíssimas.

No Encanto Azul a água é cristalina mesmo quando chove. Este é um poço onde as fotos falam por si.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *