Mas que confusão é essa? Caatinga atlântica? Isso não existe!

Sabemos! É só um trocadilho pelo que este parque tem e nos mostra. Ali é caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, o mais novo dos biomas, aliás. Na região onde há Caatinga hoje o clima já foi mais úmido e já houve um bioma parecido com o que é hoje a Mata Atlântica. Na Serra das Confusões ainda há resquícios disso! Dos parques nacionais que visitamos, é o único onde isso é tão notável.

Mas o nome da Serra das Confusões não vem daí, apesar de ser bem plausível. Aliás, não há um consenso sobre o nome da serra. Alguns atribuem ao fato de que as cores mudam ao longo do dia, outros dizem que ela é tão imensa que os tropeiros se confundiam no caminho e se perdiam. Há ainda a hipótese de que nessa área havia uma confusão sobre os proprietários das terras.

Este parque fica relativamente perto do Parque Nacional da Serra da Capivara, que atrai muitos visitantes, alguns deles tiram um dia para ir até o Parque Nacional da Serra das Confusões. É possível, mas é corrido.

Este é o maior parque nacional fora da Amazônia. Um gigante tanto em extensão quanto em importância e beleza. Há dois principais acessos ao parque, um por Caracol e um por Bom Jesus.

O primeiro acesso, por Caracol, é a entrada oficial, onde há uma portaria e controle de acesso do ICMBio. Uma ONG italiana esteve no parque há cerca de dez anos e desenvolveu junto com o ICMBio um centro de visitantes e algumas trilhas.

Infelizmente, o parque é muito pouco visitado, o que faz com que poucos recursos sejam direcionados. A infra do centro de visitantes, banheiro e local para lanche está hoje bastante deteriorada. No entanto, a beleza cênica e as trilhas seguem lá, resistindo e mostrando sua imponência.

O segundo acesso é mais recente e passou a ser visitado depois que o Rally dos Sertões passou por ali: o Canion do Viana. Podemos dizer, por observação e conversas com guias que muito mais gente vai aos Canions do Viana de carro do que visita a parte de Caracol. A infra de pousadas e restaurantes é sem dúvida maior em Bom Jesus, mas quem vai por ali sai sem saber que está num parque nacional.

Então vamos por partes: Caracol ou Bom Jesus?

Pelo acesso via Caracol é possível ir até o Mirante Janelas do Sertão, Trilha das Cores da Caatinga, Gruta do Riacho do Boi e Olho D’Água, além dos sítios arqueológicos de pinturas rupestres. É muita coisa para ver em um dia.

Mirante Janelas do Sertão

Do Mirante Janelas do Sertão há uma vista “a perder de vista” da imensidão da caatinga. Não tem hora específica para admirar, é bonito do nascer ao por do sol. Aliás, a caatinga, por ser um bioma do semi-árido, tem um lindo céu estrelado à noite, aproveite!

Trilha Cores da Caatinga

A trilha das Cores da Caatinga é bastante plana e não há como se perder. Para quem quer caminhar menos, dá para fazer parte da trilha de carro. Quem puder caminhar, recomendamos ir desde o início, vendo não somente as cores, mas sentido os cheiros e ouvindo os sons da caatinga.

Entre janeiro e abril a caatinga nesta região está verde, ocorrem chuvas, mas nada que atrapalhe o passeio. Por volta de agosto ocorre o que o pessoal chama de outono da caatinga, quando as folhas secam, ficam em tons avermelhados e amarelados antes de cair.

Mais para o final do ano as plantas da caatinga liberam suas folhas para reduzir a evapotranspiração na época mais seca, retendo água até a época de chuvas, chamada de inverno.

Mas, diferente de outros parques na caatinga, aqui há pontos com nascentes, ou olhos d’água o ano todo, há água perene. Não chegam a ser rios e cachoeiras para nos banharmos, mas a fauna e a flora usam os recursos o ano todo.

Olho D’Água

Fomos até um olho d’água perto do mirante para conferir. Muda tudo, a temperatura, os sons, a umidade. As plantas são mais altas, há musgos, é um verdadeiro refúgio para espécies, como nós, que precisam de água. A parte de cima é mais seca, a vegetação foi sendo adaptada ao longo do tempo para essa intermitência.

Gruta Riacho do Boi

O ponto mais visitado deste lado do parque é sem dúvida a trilha da Gruta do Riacho do Boi. Você caminha entre as pedras e de repente encontra uma escada que desce em uma das fendas nas rochas.

Essa fenda segue por quase 1km entre as rochas num local completamente diferente do que você viu lá em cima. É difícil acreditar que você está no mesmo parque, mas estamos num resquício de mata atlântica onde a flora resiste por conta da umidade dos olhos d’água perenes.

No final da trilha que vai passando por lugares mais ou menos estreitos, com mais ou menos água, chegamos a um jardim. Um jardim de mata atlântica no meio da caatinga. Se não houver motivo para o nome Serra das Confusões, agora já deu para achar mais um, não é?

Pinturas Rupestres

Neste parque também há pinturas rupestres, mas poucos sítios estão preparados para a visitação. Nos aventuramos com o nosso guia Jadiel e fomos até as tocas do Bom Sucesso. Não são ainda visitadas por turistas, mas ali há não somente pinturas rupestres no formato de mãos, como no formato de pés.

Canions do Viana

Os Canions do Viana são então muito visitados, em geral a partir de Bom Jesus. Há depois dos canions uma gruta, onde a parte de fora é mais bonita que a de dentro. É fora onde as araras ficam voando, vocalizando, é ali onde os paredões mostram a imponência da natureza.

Nos Canions do Viana propriamente ditos os paredões estão mais estreitos e altos. O visual é incrível, há quem vá até lá só para fazer um filme com drone. Infelizmente, ali embaixo não é parque nacional e tudo foi desmatado para criação de gado. Não há como caminhar na pastagem, somente pelas estradas onde passam os carros.

Convém achar uma boa sombra de um dos paredões para parar e admirar: tudo o que vai do pé do paredão para cima é o parque nacional. Ou seja, ao ir aos canions do Viana você olha para a beleza do parque.

Há ali alguns aperitivos do que é a outra parte, mais próxima de Caracol, com pinturas rupestres e uma gruta em formato de catedral. Menos imponentes que o que se encontra pelo centro de visitantes, mas, se você não puder ou não quiser ir até lá e for somente aos Canions do Viana, lembre-se de visitar esses locais também.

Nosso papel e responsabilidade como turista e visitante

Neste parque ainda ocorrem muitas atividades ilegais, como caça, desmatamento para retirada de colmeias. Ele nos faz refletir o quão importante é termos visitação nos parques nacionais para dar alternativas de renda e coibir esse tipo de prática.

Há uma responsabilidade em todos nós que temos a possibilidade de tirar férias em direcionar os recursos a locais que estão mais vulneráveis e onde há um potencial enorme de visitação e desenvolvimento do ecoturismo.

O que leva uma pessoa a derrubar uma árvore para retirar uma colméia, será que ela chegou ao ponto de não ter recursos para sobreviver? E os caçadores com suas armas e motos caras será que realmente não conseguem ganhar o suficiente para seu sustento ou trata-se de uma atividade “esportiva”?

Como quem vem “de fora”, é fácil nos colocarmos fora do problema, mas como nos colocamos do lado da responsabilidade e da solução?

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

8 comentários em “Parque Nacional da Serra das Confusões: o parque da caatinga atlântica

  1. Edvard Pereira says:

    Tenho planos de visitar em breve esse parque e o da Serra da Capivara, e as informações aqui contidas me ajudaram bastante na tomada de decisões. Parabéns pelo excelente trabalho que estão realizando divulgando nossos belos parques para toda população brasileira e internacional. Uma observação: vocês poderiam publicar dicas de situação das estradas, como chegar, hotéis, restaurantes e guias turísticos dessas regiões.

    • dennishyde says:

      Muito obrigado, Edvard! Boas dicas, vamos incorporar. Mas, como somos só nós dois, pode ser que a gente demore. Se tiver alguma dúvida urgente ou específica, nos avise, será um prazer.

  2. Mônica says:

    Fui a esse parque alguns anos atrás, é realmente um espetáculo. Deixo aqui a minha gratidão á vocês pelo belo trabalho e riqueza de detalhes na matéria, parabéns que vocês possam continuar com esse belíssimo trabalho.

  3. vagner says:

    Visitei o parque em 2001, ainda estavam em implantação, muitas áreas estavam impedidas de acessar.
    Pude ver cágado, harpia que não é registrada pelos órgãos, vi também tatu, raposa e pegadas de onça… não me atentei à vegetação, mas pela umidade, temperatura muito mais agradável, exemplares de musgos, samambaias e epífitas, claramente é uma região de floresta ombrófila.
    Gostaria muito de estudar essa área hj com mais experiência.

    • dennishyde says:

      Uau, em 2001! Curiosos para saber como era e o que mudou. A natureza está bem protegida pelo parque que hoje conta com um grupo de guias super capacitados, esperamos que possa voltar e rever. Abraços

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