Nos últimos meses temos passado por parque de todos os tipos. Aqueles com mais ou menos estrutura, aqueles em que as equipes do ICMBio estão mais ou menos próximas fisicamente, aqueles onde a comunidade está mais ou menos atuante. Cada parque tem sua singularidade, sua beleza própria e suas questões.

O parque nacional das Araucárias parecia um parque óbvio: ver araucárias protegidas. Mas não foi bem isso que vimos, o que nos trouxe diversas reflexões importantes. A nossa expedição não tem como objetivo mergulhar nas mais incríveis cachoeiras, subir os picos mais altos.

Ela passa por isso, mas estamos aos poucos aprendendo a enxergar além da visão superficial. Nossos objetivos estão em entender a nossa relação com a natureza e como podemos contribuir com a conservação do meio ambiente.

Para olhos pouco treinados, como eram os nossos há 8 meses, o parque nacional das araucárias está rodeado de floresta, de uma massa verde. Para olhos um pouco mais treinados e observadores mais atentos, as matas de pinus (https://pt.wikipedia.org/wiki/Pinus_elliottii) e eucaliptos (https://pt.wikipedia.org/wiki/Eucalyptus) sufocam o pouco que resta de mata de araucárias e trazem oportunidades de repensarmos no impacto que deixamos, em tudo o que fazemos.

Este não foi o parque onde encontramos as maiores belezas, mas foi um dos parques que nos trouxe as melhores reflexões até o momento

Os 90 hectares que hoje são manejados pelo ICMBio e onde ocorre ecoturismo, foram tão bem implementados que são um show-room, uma amostra, do que os 12,8 mil hectares de mata ainda pertencentes a particulares pode ser.

Nem todos os parques têm sua área regularizada e indenizada. Talvez a grande parte dos parques nacionais ainda pertença a particulares que aguardam receber indenizações. Eles não têm a obrigação legal de abrir suas propriedades para visitação.

Mas será que ao abri-las eles não contribuem para o bem-estar da sua própria população? Não criam opções de lazer, permitem que as comunidades se apropriem e reconectem à natureza? Que mais empregos sejam gerados? Não há obrigação, mas neste parque há cerca de 12.710 hectares de oportunidade disso acontecer. De cara, são mais de 15 mil pessoas entre Passos Maia e Ponte Serrada que poderiam se beneficiar direta e indiretamente.

O que saber e fazer antes de ir ao Parque Nacional das Araucárias

  • O acesso é por Passos Maia, há uma estrada de terra de 10km em boas condições até a sede
  • Em Passos Maia não há estrutura de hotéis, pousadas ou restaurantes, mas há supermercados, padaria e sorveteria
  • O parque tem quatro trilhas bem demarcadas e autoguiadas, sendo que a do Poço da Espuma está um pouco fechada pela taquara
  • Na sede há um mapa das trilhas para orientação
  • Na sede há banheiro, mas não há lanchonete ou restaurante
  • Não é permitido acampamento no parque, mas é permitido fazer trilhas à noite para avistamento de fauna
  • Recomendamos contatar o ICMBio para pedir acompanhamento nas trilhas, eles trazem muito conhecimento
  • Em muitos pontos do parque há sinal de 4G, mas não muito forte

A trilha da cachoeira dos xaxins começa por uma área que foi desmatada e está em recuperação ambiental, com manejo do ICMBio. Segue por uma mata de eucaliptos, que poderão ser retirados pelo antigo dono, onde há um sub-bosque já em formação, mas ainda é muito árido.

Mais adiante apresentam-se as bracatingas, árvores nativas pioneiras, aquelas de crescimento rápido que fornecem nutrientes e sombra para que outras espécies possam se desenvolver a a floresta possa se reestabelecer. Passa pelas taquaras, que é o equivalente ao bambu nacional e chega até uma mata de xaxins e imbuias, nativas da mata atlântica, onde está o curso d’água mais protegido. Ao longo do percurso passamos por algumas araucárias.

Não existe uma mata nativa somente de araucárias, elas fazem parte de uma floresta e precisam de outras espécies para cooperar e se manter

Nessa mata foi retirada muita madeira de lei, poucas restaram. A madeira de lei leva séculos para crescer, isso quando apresenta condições para que as sementes brotem. Não adianta desmatar todas as árvores e preservar somente as araucárias. Isso não propiciará que mais araucárias cresçam, é como se a mata tivesse uma data de fim, mesmo que não sejam derrubadas as últimas araucárias.

Como ao longo dos últimos 522 anos consumimos a enorme parte da madeira de lei que havia e somente aumentamos nosso consumo e dependência desse recurso natural, a solução encontrada foi plantar árvores exóticas como pinus e eucaliptos, de crescimento rápido.

Essas espécies são resultado do processo evolutivo da América do Norte e da Austrália, onde não cooperam com outras como faz a mata atlântica. O pinus é tão forte que sua semente espalha-se facilmente, adentrando a mata de araucárias, tomando o seu lugar, mesmo que não plantada. O eucalipto é menos invasivo, mas consome muita água, tornando o ambiente muito seco e rebrotando, mesmo que depois de retirada.

Aproveite a visita para observar e sentir bem a diferença entre plantações de pinus e eucaliptos e a floresta de araucárias

A exploração da madeira de lei e a introdução das madeiras exóticas trouxeram não somente o fim, ou quase o fim dos habitats naturais, mas também representa um risco para a própria espécie humana. Matas de pinus e eucaliptos não têm a mesma evapotranspiração, não absorvem água da chuva, fazendo com que nós humanos não tenhamos água em fluxos constantes e suficiente para nossas necessidades.

Há uma escolha a fazer: continuar consumindo pinus e eucaliptos dessa forma ou retomar condições para que o ciclo da água seja recomposto? Hoje não há mais espaço para escolher entre desmatar ou não. Nos resta tão pouco de mata nativa, que precisamos repensar como vamos recompô-la, e isso é urgente.

Plantar árvores contribui para o reflorestamento? Não é tão simples assim

A trilha do poço da espuma é um pouco mais longa e passa por uma área ainda maior de taquaras. Convém avaliar as condições da trilha com o ICMBio antes de fazê-la. Ela leva até o rio Chapecozinho em uma área acima da queda d’água que cria uma espuma natural, em um local bom para banho.

As demais trilhas são mais curtas e mais indicadas para o início do dia (aves) e final do dia ou à noite (noturna), para avistamento de fauna.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

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