Poucos parques conseguiram se esconder tanto de nós quanto o Guaricana. Este parque não é recente, mas é tratado como se fosse. O prazo para que seja feito um plano de manejo, prevendo um uso público, é 2024! Esperamos que esse longo prazo faça o Guaricana um exemplo em como fazer um plano de manejo, incluindo as consultas e debates com a sociedade. Mas somos mais práticos e um pouco céticos com relação ao extenso prazo para que esse parque seja assumido como parque.
Ouvimos muito sobre “o parque ainda não foi criado”, quando o correto é dizer que “o parque ainda não foi inteiramente implementado”, pois a criação foi realizada e o parque está aberto.
É necessário que esse parque seja assumido como tal, antes que seja tarde demais!
Antes de tudo, a sede do parque está em Curitiba, cobrindo esta unidade de conservação e uma floresta nacional. Entendemos as vantagens de ter um núcleo de gestão integrada, mas neste caso parece ter criado um distanciamento enorme com a realidade do parque: físico, pois Curitiba é longe e o parque é imenso, e emocional, pois ao longe não se observa o que está sendo efetivamente feito no parque enquanto o mesmo não é reconhecido. O parque é enorme e está em três municípios, nenhum deles é Curitiba. A grande desvantagem de ter um parque longe de sua sede é a morosidade dos processos.
Foi neste parque que cruzamos com um extrator ilegal de palmito juçara. Sabemos que não é exclusividade deste parque, mas se não tivermos mais pessoas ocupando essa área de forma a levar pesquisa, educação ambienta e ecoturismo, atividades ilegais continuarão acontecendo e nossos recursos naturais serão extraídos antes.
Uma boa parte deste parque é de floresta ombrófila mista, a chamada mata de araucárias. As araucárias correm sério risco de extinção, há quem diga que em 80 anos não sobrará uma única em pé. Se logo neste parque temos uma unidade de conservação integral, a urgência fala ainda mais alto.
O nome do parque tem origem na palmeira guaricana
Não encontramos fontes exatas, mas recebemos informações de que a folha da palmeira guaricana era usada por indígenas para cobrir ocas. Mas fato que hoje é usada em coroas fúnebres. Convém sempre conhecer a origem dos recursos que usamos e uma parte da guaricana usada em coroas é extraída de forma ilegal dos parques.
No entanto, não é somente essa palmeira que o parque protege. Ainda há pouco conhecimento sobre os recursos naturais do parque, mas sabe-se que além de recursos hídricos e flora em extinção, este parque conta com uma abundância de fauna. Sabe-se disso principalmente pelos animais encontrados em unidades de conservação vizinhas.
O que saber e fazer antes de ir ao Parque Nacional Guaricana
- O parque não tem indicações ou acessos, a melhor forma de encontrar atrativos é procurando pelo wikiloc
- Não há cobrança de ingresso ou controle de acesso; alguns acessos por propriedades particulares que podem requerer pagamento
- Não há guias ou agências que operem atualmente dentro da área do parque
- Não há indicação ou locais de estacionamento pré determinados para acesso ao parque
- As trilhas do parque são demarcadas por usuários, não há manejo do ICMBio; é fácil se perder
- Algumas trilhas seguem o curso de rios, facilitando a navegação
- Não há qualquer estrutura como banheiros, restaurantes, lanchonetes ou acampamento na área do parque
- Na maior parte do parque não há sinal de 4G
- Um dos acessos se dá por uma comunidade indígena, o acesso somente pode ser feito se conversado com eles; é de nossa responsabilidade conhecer a realidade deles antes de procurar visitá-los, apesar de muito receptivos
Há pouquíssima ou nenhuma informação sobre o parque e seus atrativos turísticos
Como não há uso público estruturado no parque, não existem núcleos ou uma lista de atrativos principais. Ainda assim, conhecemos uma porção do lado oeste, próximo às represas da empresa de energia, também tivemos a honra de conversar com uma comunidade indígena que vive em uma área dividida com o parque nacional. Fomos a um ponto alto para avistar a imensidão do parque, mas também visitamos rios e cachoeiras para conhecer seus detalhes.
Há três picos para serem visitados na porção norte do parque
O Pico Primeiro de Maio fica entre os Picos X e Pilão de Pedra. O acesso ao início da trilha é pela PR-277, deve-se estacionar na fé em um retorno operacional no meio da estrada. A trilha é bastante fechada até o pico, onde a mata mais arbustiva permite observar ao longe este imenso parque. Não foi uma subida fácil, a trilha não é manejada pelo ICMBio, mas é frequentada por turistas nos finais de semana e extrativistas nos dias de semana.
Cruzamos diversos rios e quedas d’água ao longo da trilha. É curioso pensar que nenhum dos rios que nasce no parque corre no sentido do Rio Iguaçu, mas diretamente para o mar, seja para Guaratuba ou Paranaguá. A vista do pico é extremamente ampla e revela a preciosidade que está nessa região de mata atlântica.
Pela estrada de Limeira é possível acessar diversos rios e cachoeiras
Seguindo pela estrada de Limeira, que corre entre os Parques Nacionais de Saint-Hilaire/Lange e Guaricana, é possível entrar no parque nacional Guaricana em diversos pontos, rio acima. Conversando com locais, poucos sabem da importância ou mesmo da existência do parque. Vimos diversos pontos onde atividades ecoturísticas poderiam ser facilmente implementadas, ajudando na educação ambiental.
O acesso ao Salto Cantagalo é através de um rio, acreditamos que de mesmo nome. Trata-se de um aquatrekking de 2km que leva umas 3-4 horas para percorrer. Não há trilha e a água bate geralmente na canela, com alguns trechos em que chega à cintura. A lentidão em percorrer está na dificuldade de andar sobre pedras soltas e muitas vezes escorregadias. O trajeto é lindo e a queda d’água no final da trilha imponente e com um belo poço para banho.
O Poço Encantado pode ser acessado tanto desde o norte, pela PR-277, quanto pela estrada de Limeira. Optamos pela segunda opção, onde o carro fica estacionado ao lado do “Bar Posto Ipiranga”. A trilha passar pela propriedade da companhia de energia do estado do Paraná e é praticamente plana. Apesar de ter uma mata fechada, nota-se nessa trilha que a mata está em recuperação, parte ainda com plantio principalmente de banana.
No final da trilha há uma descida mais íngreme onde é necessário ir com cuidado pois está bastante erodida e as árvores e raízes parecem ter sido usadas como apoio por visitantes, estão bastante danificadas. O poço permite banho, mas com muita cautela dada a correnteza.
A natureza deste enorme parque é exuberante e à primeira vista muito bem protegida. Mas percebemos as diferenças entre o extrativismo de palmito juçara, que leva cerca de 10 anos para amadurecer e que mata a planta quando colhido, e o palmito pupunha, plantado em propriedades cerca do parque, leva 1,5 ano para amadurecer e não mata a planta quando colhido. Urgem ações para proteger esse parque de forma efetiva. Uma delas é acelerando o uso público, o ecoturismo, a educação e consciência ambiental que a visitação a unidades de conservação permite.
Em nossa vivência temos visto como comunidades inteiras se desenvolveram com o turismo proporcionado por unidades de conservação. Caçadores, pescadores, garimpeiros e extrativistas tornam-se guias, artesãos, donos ou funcionários de restaurantes e pousadas. Além de aproveitar seu imenso conhecimento da natureza e dos parques, é dada uma alternativa para que as atividades ilegais cessem e o meio ambiente seja protegido por quem mais conhece e se beneficia em manter a biodiversidade.
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:
Uns 15 dias atrás estivemos na Cachoeira dos Ciganos, fomos pelo GPS até a entrada que fica ao lado de um estacionamento, que cobra para deixar o carro lá.
Fizemos o aquatrekking, mas não estávamos bem preparados, o trajeto é muito lindo, bem sombreado, mas como disseram, não tem nenhuma sinalização, mas tem um movimento até bom de turistas. O Salto é muito lindo, água transparente. Infelizmente a falta de infra-estrutura deixa pegadas, tipo lixo pelo caminho.
Tem toda razão, Celso. Temos observado os esforços do ICMBio em finalizar o plano de manejo do parque. Acreditamos que logo mais vai ser um destino bem demarcado, mantendo sua beleza. Abraços