Terra Indígena Uru Eu Wau Wau

O Parna foi criado nos anos 70 em uma área de 709 mil hectares que protege grande parte das nascentes do estado de Rondônia. A Terra Indígena foi homologada muitos anos depois com 1,8 milhões de hectares. O Parna ficou inteiramente na área que já era dos indígenas, só não homologada no papel.

Nesse Território Indígena vivem 9 povos

 – Os Jupaú (também conhecidos por Uru Eu Wau Wau) e os Amondawa aos poucos foram indo para a beira das estradas para defender seu território de invasores

 – Os Cabixi e os Oro Win vivem em uma área mais central com acesso somente por barco

 – E há 5 povos indígenas não contatados, mais abaixo falaremos sobre eles

Saiba mais sobre os povos indígenas citados através dos links abaixo, informações do Instituto Socioambiental

https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Uru-Eu-Wau-Wau

https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3891

Não é exclusividade deste parque, mas seu acesso somente pode ser feito se autorizado por todos os 4 povos indígenas contatados. Atualmente o plano de visitação está sendo revisto (entre outros por conta dos indígenas não contatados, explicaremos mais adiante).

Tivemos não somente o privilégio de ter sido aceitos a visitar o parque, mas tivemos um banho de cultura e conhecimento do Kuaimbu. Seu falecido pai era do povo Jupaú e sua mãe do povo Juma. Um rapaz de 22 anos que nos acompanhou de ponta a ponta, nos transmitindo conhecimento ancestral.

Indígenas não contatados

Você sabia que na Amazônia vivem povos que não têm qualquer contato com os brancos? Acredita-se que 114 povos, dos quais 28 confirmados.

Pelo menos 28 povos certamente sabem de nossa existência (e das nossas ameaças) optaram por viver de forma autônoma, em isolamento voluntário. E o nosso país garante esse direito a eles. É um direito à sobrevivência.

Existem pessoas que trabalham exclusivamente com eles. Ou melhor, para eles, sem que eles saibam que estão sendo protegidos. Dedicam seu dia, sua semana e sua vida, como Bruno Pereira, que foi um dos maiores especialistas em indígenas não contatados.

Além das instituições, alguns povos indígenas contatados fazem a proteção dos não contatados. Aqui os Amondawa são seus principais protetores. Nem eles fazem contato, pois sabem que podem levar doenças e provocar uma mudança drástica na cultura. Os não contatados deixam sinais de que querem permanecer assim.

Se já não é fácil proteger uma terra como um parque nacional ou um povo indígena com o qual temos contato, como será proteger um povo que vive de forma autônoma? Como fazer isso em um estado que perdeu quase 32,2% da sua vegetação entre 1985 e 2022?

O que será que esses povos acham e fazem quando vêem os campos cheios de gado que limitam a floresta? Quando olham para os astros e vêem uma série de satélites orbitando? Que sentem o cheiro da fumaça, a mudança na temperatura?

Será que no dia em que a humanidade acabar consigo mesma é esse povo que vai sobreviver e repovoar a Terra, dando os passos atrás que já não conseguimos dar?

Monitoramento de flora

Há duas bases do ICMBio no parque, uma delas fica no rio Jaci, bem na beirinha do parque. Acompanhamos a equipe do ICMBio em uma missão para encontrar os pontos do monitoramento de flora.

Já participamos de monitoramento de fauna e de borboletas, feitos anualmente. O monitoramento de flora é feito a cada 5 anos. Como grande parte dos colaboradores do ICMBio é de temporários, muito conhecimento se perde, fomos procurar as balizas. E encontramos!

Um parêntese aqui: os (sempre poucos) servidores concursados precisam recorrentemente treinar os temporários, que ficam em suas funções não mais do que 3 anos e precisam ficar 2 anos fora. Isso gera ineficiência, gera descontinuidade e perda de histórico.

Os servidores estão mobilizados desde o início do ano e requerem reformulação de carreira. Isso é urgente e precisamos apoiá-los nesse pleito. A responsabilidade é muito superior ao reconhecimento.

Ano que vem será feito o monitoramento de flora, contar e medir o diâmetro de cada árvore em 4 mil metros quadrados. Os limites do parque por este lado foram totalmente desmatados, o que provavelmente fará com que a saúde da floresta tenha sofrido. Este ano está sendo realizado o reconhecimento, ano que vem o monitoramento, daí saberemos os impactos.

O monitoramento do fogo

Quando falamos de povos indígenas, falamos que eles protegem a floresta. Mas protegem como? Fazendo rondas ostensivas? Vivendo em diversos pontos para ocupar os espaços? Fechando estradas? Colocando cercas? Quem consegue cercar tamanha terra? Talvez tudo isso seja feito, mas eles usam a tecnologia a seu (e nosso, por consequência) serviço.

Ano passado as imagens de satélite indicaram que uma área no topo do parque foi queimada. Ali não vive ninguém e tampouco passam turistas. O que teria acontecido? Não tem outra forma a não ser ir lá ver. Os indígenas saíram em uma missão, subiram as montanhas e foram verificar se havia indícios de fogo colocado pelo homem.

Comparado às causas provocadas pelo homem, poucos incêndios têm causas naturais, por raios. Quando ocorrem, geralmente no final de épocas secas e antes das chuvas, que apagam logo. Foi o caso aqui, inclusive vimos a velocidade com a qual a mata se recupera quando não há intervenção humana e há um farto banco de sementes e fauna dispersora.

Mas só sabemos de tudo isso porque alguém foi até lá ver. O caminho não é fácil. Há quem diga que há muita terra para pouco indígena, o que já foi comprovado que não é. Há sim muita responsabilidade para pouca gente, entre os indígenas e os servidores do ICMBio. Se eles não estão lá, invadem. Se não monitoram, queima. Se não circulam, garimpam.

Como se proteger a fauna e a flora não fosse argumento suficiente em si, fazem isso nos lugares mais lindos e importantes do nosso país, onde estão nossas caixas d’água.

Pico do Tracoá

Este é o ponto mais alto do estado de Rondônia. Mas não é só isso. É um platô de cerrado em meio à selva amazônica. Um oásis que abriga as nascentes de 17 importantes rios do estado de Rondônia. Rios de águas transparente nascem ao lado de rios com cor de chá, cada um corre para um lado diferente.

Um local pouco visitado e pesquisado. Espécies de peixes e aves estão aguardando para ser descritas, talvez por primeira vez. Cachoeiras e cânions te transportam para uma chapada, num visual que não cansa, só relaxa. Uma vista infinita da selva amazônica lá em cima. Um céu estrelado digno dos locais mais remotos do mundo.

A subida é linda, mas requer atenção. Começa num rio cheio de pedras redondas, perfeitas para torcer um pé. Passa por poços de água transparente, chega a um paredão que parece intransponível. Só agarrando nas raízes para chegar ao topo.

Acampamos por duas noites, tivemos tempo de aproveitar e descansar para a descida, que não é menos bonita e nem menos arriscada, requer cuidado para não fazer rolar uma pedra.

Um paraíso. Pelo que já visitamos, talvez seja um dos lugares com maior potencial turístico do Brasil. Mas a visitação ainda demanda alguns passos de confirmações e estruturação.

Visitação ao parque nacional

A visitação no PARNA de Pacaás Novos, em especial da região do alto do Pico Tracoá, está fechada em razão da necessidade de regularização da atividade junto aos órgãos competentes e povos indígenas do território.

O ponto crucial é verificar se os povos indígenas não contatados utilizam a área onde há potencial turístico. Caso usem, a prioridade é deles e o turismo não será permitido. Ano passado foi feita uma expedição e não foram encontrados vestígios. Uma nova expedição mais longa e com a presença dos 4 povos indígenas contatados será feita nos próximos meses.

Se não forem encontrados vestígios de passagem ou uso da área pelos indígenas não contatados, ainda assim será necessário manejar a trilha, instalar equipamentos de segurança (para os visitantes e para o meio ambiente). Nós vamos torcer, acompanhar e, claro, ajudar no que for possível. E vamos contando aqui se e quando for aberto ao turismo.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

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