Unidades de Conservação no Amapá

O Amapá tem dois parques nacionais: Montanhas do Tumucumaque e Cabo Orange. É um estado que, apesar de estar comunicado ao continente, comporta-se como uma ilha. Os três acessos são por ponte ou barco, não há uma estrada por terra que ligue o estado ao continente.

Aliás, a viagem de barco de Belém a Macapá (há também outras origens) vale muito a pena, vai bordeando a Ilha do Marajó e suas diversas comunidades ribeirinhas, rodeadas de açaizais. É possível ficar em uma cabine com banheiro ou em redes, tanto com quanto sem ar condicionado.

Um estado onde o açaí é levado a sério. Amapaense come açaí colhido e batido no dia, junto com a comida. Come com farinha, alguns colocam açúcar. Calculamos que o Amapá precisa de 12 milhões de pés de açaí para alimentar sua população. O açaí precisa de uma floresta e de muita água.

O açaí no Amapá é comido de forma original, e não como nós comemos (sorvete de açaí) no Sudeste. O açaí é geralmente colhido ao longo do dia, batido e servido no mesmo dia. Você vai encontrar um lugar que vende açaí em cada esquina, nas bandeiras estará escrito o valor do litro. Mas é para levar para casa, não espere que ali seja servido açaí congelado com granola ou banana.

Talvez por isso que 65% da área do estado seja protegida por Unidades de Conservação (a média do Brasil é de pouco mais de 18% na área continental).

Percorrendo de sul a norte: cerrado representa quase 10% da área do estado! Veredas com buritizais a perder de vista. Achávamos que aqui seria tudo bioma Amazônia!

Na costa: mais de 200km de mangue, alguns indicam como o mais bem preservado; lagoas de água doce, ponto de parada e alimentação de aves limícolas (migratórias), uma importância global, por isso abarca dois sítios Ramsar (um tratado internacional para proteção de áreas úmidas, há 27 no Brasil).

No interior: uma floresta amazônica diferente, com árvores de porte altíssimo, principalmente os angelins que chegam a ultrapassar os 80 metros de altura. Falaremos sobre a floresta quando falarmos do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.

Relembrado as aulas de geografia da escola

Quem nunca ouviu falar do Cabo Orange? Caía na prova como o extremo norte do Brasil. Pois é, ou melhor: não é! O extremo norte do Brasil fica no Monte Caburaí em Roraima. Aqui está o extremo norte do nosso litoral!

E o que o Cabo Orange tem a ver com o Oiapoque, que também caía na prova como extremo norte? Oiapoque é o rio que separa o Brasil da Guiana Francesa (ligado por uma ponte) e também o nome de uma cidade. Não é um riozinho, lembra que isso aqui é Amazônia, tem até uma ilha onde já contaram mais de 100 mil papagaios fazendo uma revoada.

Do Oiapoque são 3 a 4 horas de voadeira até o Cabo Orange, onde dá para se aproximar, mas não dá muito para descer. O solo é de argila e as aves ficam ali, se alimentando e descansando para as próximas etapas. Algumas ainda têm mais 8mil km de viagem só de ida ao Canadá, fora a volta até a Patagônia).

Sabe o que fomos fazer lá? Identificar e contar aves. Duas vezes ao ano ocorre o CNAA, censo neotropical de aves aquáticas, que ocorre simultaneamente no mundo todo duas vezes ao ano com o intuito de monitorar aves migratórias.

Se uma espécie fica sem habitat aqui, ela não chegará ao seu próximo destino. Esta é uma iniciativa de ciência cidadã aqui é encabeçada pelo Paulo, que coordena e coloca a mão na massa (ou pisa no mangue) há mais de uma década com esse objetivo.

Antes de tudo: orgulho e admiração por pessoas que fazem isso por nós. Afinal, cuidar do meio ambiente é cuidar de nós.

E quanto a nós dois, orgulho por termos identificado muitas espécies, um conhecimento adquirido nos últimos dois anos de expedição: Garça branca pequena, Garça branca grande, Garça azul, Garça moura, Colhereiro, Guará, Flamingo, Cabeça seca, 30 Reis. Nossa jornada pelo conhecimento das aves limícolas começou no Parque Nacional da Lagoa do Peixe.

Além dos maçaricos cuja espécie não sabemos identificar, das marrecas que não conhecíamos, do talha mar que não é migratório e do pernilongo que é endêmico (só tem aqui).

O Parque Nacional do Cabo Orange é um dos 27 Sítios Ramsar brasileiros. De importância global, protegem áreas úmidas por onde passam aves limícolas (migratórias).

O desequilíbrio em uma área úmida como estas pode ter impacto global, pois as aves “apostam” que quando chegarão terão alimento e local para reprodução ou descanso. Caso não haja, elas já viajaram longas distâncias e podem não ter como seguir ou voltar.

Um mangue de porte amazônico

Quem nos acompanha há um tempo sabe que temos uma quedinha por mangues. A subida e descida das marés, os caranguejos, a proteção natural, a enorme importância.

Segundo a USP, os manguezais produzem mais de 95% do alimento que o homem captura no mar. Eles são berçários e o Brasil tem quase 16% do mangue do mundo.

Logo que entramos, fomos recebidos por dois grupos de primatas: macacos-prego e micos-de-cheiro. Eles nos “forçaram” a olhar para cima e a ver a magnitude das árvores. Estamos relativamente acostumados a andar em mangues, mas aqui a dimensão é outra.

A grande variação de maré junto à foz do Amazonas que traz nutrientes deposita lama rica que propicia essa vida toda. Até as onças passam por aqui!

As risóforas, com suas enormes e aéreas raízes, destacam-se na paisagem. Andar pela lama não é tarefa fácil, a regra é pisar onde ninguém havia pisado para afundar menos. Quer saber? Queríamos ficar de lama até a cabeça. Que lugar maravilhoso, rico, único, que todo brasileiro deveria ter a oportunidade de conhecer para se orgulhar do que é a natureza do nosso país e tomar conhecimento da importância

O Amapá passa hoje por uma discussão da exploração do Petróleo em sua costa. Se um desastre acontece, o óleo que chega com a maré alta dificilmente vai embora depois que a maré seca. Seria um desastre sem volta atrás.

E como este local tem uma importância global, aves de toda América seriam afetadas e poderiam deixar de existir. Se isso não é risco suficiente de desequilíbrio ecológico, o que será que pode impedir uma exploração dessas, na contramão de um mundo que precisa se descarbonizar?

Para leitos, como nós, a tendência é olhar para a distância do local onde espera-se extrair o petróleo e dizer “tudo bem, é longe”. No entanto, ao conhecer um ambiente como este e sua fragilidade, a opinião muda.

A maior variação de maré do mundo acontece aqui, que poderia rapidamente trazer óleo do oceano e depositá-lo no solo do mangue. Isso cobriria as tocas de caranguejos, inviabilizaria o berçário de peixes e o descanso e alimentação de aves migratórias. Uma vez depositado, quem vai entrar no mangue tirar tudo isso?

Aqui há um grande risco de um impacto enorme e irreversível. As perguntas que devemos nos fazer são: temos o direito de danificar ou exterminar um ambiente e sua biodiversidade? E podemos viver sem mais uma fonte de petróleo, buscando alternativas através da redução do consumo ou mesmo de fontes alternativas de energia?

ESEC Maracá Jipioca

Algumas imagens de aves foram tiradas na ESEC Maracá Jipioca, uma Unidade de Conservação, assim como Parques Nacionais, de proteção integral, ocorre lá uma das maiores variações de maré do mundo, ultrapassando 11 metros. O CNAA é feito de forma combinada pelas equipes do ICMBio em ambas Unidades.

A visita com objetivo de educação ambiental pode ser agendada com a equipe responsável pela Estação Ecológica. Se tiver interesse, nos mande uma mensagem e será um prazer compartilhar contigo, o acesso é pela cidade do Amapá e pode ser feito somente com barco e com autorização do ICMBio.

Acreditamos no modelo que as equipes do ICMBio Amapá têm de aproximar a população das Unidades de Conservação através de programas de educação ambiental.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

Um comentário em “Parque Nacional do Cabo Orange: o parque do mangue amazônico

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