Unidades de Conservação no Amapá

O Amapá tem dois parques nacionais: Montanhas do Tumucumaque e Cabo Orange. É um estado que, apesar de estar comunicado ao continente, comporta-se como uma ilha. Os três acessos são por ponte ou barco, não há uma estrada por terra que ligue o estado ao continente.

Um estado onde o açaí é levado a sério, assim como a conservação: 65% da área do estado é protegida por Unidades de Conservação (a média do Brasil é de pouco mais de 18% na área continental).

Se você quiser saber mais sobre o estado do Amapá, incluindo dicas de como chegar e se locomover por lá, dê uma olhada no nosso registro de visita ao Parque Nacional do Cabo Orange, onde detalhamos esses pontos.

Tumuca, Tumaque, Tumeca,… Tu-Mu-Cu-Ma-Que!

Demoramos meses em aprender a repetir, não é fácil de primeira (nem de segunda kkk): Tu-mu-cu-ma-que. Fica no Amapá, entre a Serra do Navio e a Guiana Francesa. Parece longe e com nome difícil demais para ser importante, não é?

Quem sabe pronunciar Himalaia mesmo sem nunca ter ido até lá? Quem sabe reconhecer uma imagem do Atacama? E em que país fica a usina de Fukushima? Há uma máxima que diz que só protegemos o que amamos e só amamos o que conhecemos.

Se o gelo do Himalaia derrete, acende um sinal de alerta? Se tem roupas sem uso jogadas no deserto do Atacama outro alerta se acende? E se os angelins vermelhos do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque somem? Qual o sinal de alerta?

O maior parque nacional brasileiro – Montanhas do Tumucumaque – tem algumas das maiores árvores da Amazônia – angelins vermelhos. Lá ficam as grandes nascentes de rios do Amapá, uma das florestas mais protegidas da Amazônia.

Significa “pedra da montanha”. O parque é vizinho de um Terra Indígena com o mesmo nome onde vive o povo Aparai e alguns indígenas isolados. Faz parte do Mosaico do Oeste do Pará e Norte do Amapá, que protege 12,4 milhões de hectares (o estado de SP tem 24,8 milhões de hectares). É classificado como um dos céus mais escuros do mundo.

Sabendo disso, você não sente algo especial? Um senso de pertencimento, admiração, proteção? Não deu vontade de aprender a pronunciar Tumucumaque, pesquisar mais, contar a todo o mundo e ir até lá ver com seus olhos?

A Vila Brasil é visitada pelos franceses

Saindo de Oiapoque, são 6h30 em voadeira rio acima (sim, Oiapoque é um rio enorme, largo e cheio de pedras no fundo) até a Vila Brasil. Não tínhamos muita ideia do que íamos encontrar, mas fomos com muitos preconceitos, esperando uma infraestrutura ruim.

Chegamos numa vila delícia, linda, tudo super bem organizado, ficamos na Pousada Le Belvedere. Fomos recebidos pelo Ivan, paraense de Santarém e por sua esposa Lúcia, como se estivéssemos na Europa.

Não só por tudo ser cobrado em euros (lembre que mesmo do lado do Brasil!), mas pelo pão delicioso, sotaque, livros nas estantes, silêncio. Sim, uma das coisas mais difíceis de encontrar em qualquer cidade no norte do Brasil (e até nos barcos!) é silêncio, tem sempre uma caixa de som bombando.

Nos dias seguintes saímos rio acima, ficamos acampados na floresta, tomamos banho de rio, vimos as estrelas, ouvimos o canto das aves. Tudo simples e gostoso.

Em frente à Vila Brasil há uma comunidade indígena na Guiana Francesa, em Camopi. Lá tem aeroporto, hospital, turismo. Os turistas vêm de Paris para Caiena e de lá para Camopi. Fazem rafting, stand-up paddle, conhecem a cultura indígena, visitam a nossa floresta.

Sabe o que falta? Brasileiro fazendo turismo. Claro que não fomos, mas nos olhavam e falavam conosco como se tivéssemos sido os primeiros brasileiros fazendo turismo… no Brasil.

Não é fácil e nem barato chegar lá. Mas é mais fácil e mais barato que ir a outro país conhecer a fauna, descansar, ver as estrelas, ouvir histórias, tomar banho de rio. Ficamos apenas 3 dias, pena que tínhamos um compromisso na Serra do Navio e não pudemos estender por mais uma semana, no mínimo. Está na lista de lugares onde certamente voltaremos.

Perto da Serra do Navio, as montanhas são as árvores

Esperávamos grandes montanhas com trilhas íngremes e floresta, muita floresta. Sim, a floresta aqui é um negócio maravilhoso, deve ser uma das maiores florestas primárias (nunca mexida pelo homem) do mundo, não é à toa que estamos no maior parque nacional brasileiro.

Sobre as montanhas: para a Amazônia, onde é tudo bem plano, são significativas, mas não são o grande atrativo. Na Amazônia o que chamamos de corredeiras no Sudeste, aqui são cachoeiras. Isso não reduz de forma alguma a beleza e importância, hein?

A grandiosidade está no porte e na idade das árvores. Aqui há espécimes de angelins vermelhos gigantes, alcançando mais de 80 metros de altura.

Medir uma árvore não é tarefa fácil, este parque tem um chefe, o Christoph, cujo hobby é medir árvores, além de assoviar, segundo ele de forma tosca, o canto do uirapuru. Ele usa para isso um hipsômetro, um instrumento próprio para medição de árvores (não que isso torne a tarefa fácil).

Uirapuru é uma ave amazônica com um canto lindo, comprido! Foi atrás desse canto que Dalgas Frisch percorreu a Amazônia para gravar o canto em um disco de vinil.

Disco que seria ouvido pelo Christoph, que viria a ser o chefe do maior parque nacional brasileiro, onde essa ave habita. Disco que trouxe à tona a necessidade de preservação dos nossos biomas por aquele que propôs a criação deste parque nacional. Coincidência? Sorte? Destino? Sorte a nossa!

Gente de todo o mundo vai até a Califórnia ver as lindas e sequoias gigantes. Menos de 50 pessoas vêm aqui todo ano ver os angelins gigantes. Há infraestrutura para dormir em rede, há guias e pilotos para te levar de barco, há um rio lindo para se banhar.

Quem sabe não falta “só” saber disso tudo? Que isso tudo está no Amapá, um estado pouco considerado por brasileiros em termos turísticos, mas que nos impressiona a cada passo com sua grandiosidade? Será este o post que faltava?

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

8 comentários em “Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque: o parque da união de gigantes

  1. Alexandre Santiago says:

    Parabéns. Sua matéria é ESSENCIAL para mostrar, principalmente a nós brasileiros, que temos uma das maiores áreas de conservação do planeta, na maior floresta do planeta.
    Só uma pequena correção, a comunidade indígena, vizinha à Vilã Brasil, chama-se Camopi.

  2. Pingback: Parque Nacional do Cabo Orange: o parque do mangue amazônico - Entre Parques BR

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  5. Pingback: Serra do Divisor: o parque a perder de vista - Entre Parques BR

  6. Flávio says:

    Olá, Dennis e Letícia!
    Encontrei a página de vocês a poucos meses de embarcar na minha primeira viagem ao Parna Montanhas do Tumucumaque, partindo de Belém.
    Além das belas imagens, me identifiquei muito com a sensibilidade no relato da experiência de vocês dois por lá, especialmente.. porque graças a esse post, me dei conta do privilégio de ser um brasileiro (entre tão poucos) a visitar um lugar tão único e especial.
    Certamente.. olhar para os angelins vermelhos gigantes terá um novo significado pra mim!
    Obrigado!

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