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Chegamos ao Catimbau com altas expectativas. Quem nos falava dele dizia que íamos gostar muito. Confiando muito em quem indicou, chegamos esperando muito alto mesmo. E o que encontramos foi uma magia que vamos tentar descrever aqui.
- O vento incessante, o calor do meio dia, as noites estreladas
- O blém-blém dos sinos das cabras e bodes, a cor avermelhada dos paredões no nascer do sol, as incógnitas que surgem ao vermos pinturas rupestres
- As histórias de povos que passaram e os que ali vivem hoje
- As flores da caatinga, os leitos dos riachos secos, o conhecimento das propriedades medicinais das plantas
- O “messias” que levou multidões ao sertão com medo de que o mar fosse subir, o acolhimento de PC Farias, a vista de papa-léguas
Há parques que cabem em fotos, há parques que precisam ser sentidos e o Catimbau é um deles. É um parque seco. Sabemos que o turismo é atraído de forma diretamente proporcional à presença de água. Mesmo assim, a proximidade de Recife e Maceió, aliada a essa magia do parque, faz com que cada vez mais visitantes sejam atraídos.
Vale a pena sempre acordar muito cedo. Além de ver as cores do nascer do sol, é o melhor momento em termos de calor. Na hora do almoço, e aqui o pessoal almoça cedo pois acorda cedo, faz muito calor e é bom se poupar. Seja de volta à pousada ou em uma das tocas formadas pelos arenitos.
A flora da caatinga é tão sábia que libera suas folhas no verão para evitar a perda de água. Podem parecer mortas, mas as árvores estão vivas e se poupando. Ao primeiro sinal de chuva, estão prontas para abrir, captar energia, florir, se reproduzir.
Por isso, não conte com encontrar muita sombra embaixo das árvores, salvo algumas que ficam verdes praticamente o ano todo, como o juazeiro. Leve sempre muita água com você, uns 1,5 – 2 litros por período (3 – 4 litros no total).
Neste parque há 13 a 15 trilhas para serem feitas, entre sítios arqueológicos e pontos de ampla vista. No Vale do Catimbau há uma associação de guias. Como a maior parte da áreas é privada, é cobrada uma entrada e em alguns pontos o guia é obrigatório. Utilizamos o documento abaixo como base, mas visitamos alguns lugares além dos descritos ali.
Este é o segundo maior sítio arqueológico do Brasil
Apesar de bastante pesquisado, ainda há muitas incógnitas sobre este lugar, sobre quem habitava ali, sobre as pinturas rupestres. Quais delas ficaram e quais foram apagadas, tanto as que foram pintadas por cima quanto as que pereceram no tempo.
Fala-se de duas “tradições” de pinturas rupestres: a nordeste com suas formas mais geométricas, traços mais largos e estáticas, representando coisas, objetos, principalmente. A agreste representa animais e figuras humanas, também em movimento.
Em alguns sítios é possível ver ambas, mas em geral estão separadas.
Avistar pinturas rupestres nos leva a pensar quem as fez, por qual motivo. Logo você se vê “interpretando” o que está ali representado: um lagarto, um cesto, uma cena de sexo, uma luta.
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Se por um lado somente podemos imaginar, pois não há e provavelmente não haverá certeza do que tudo aquilo significa, por outro é interessante ver como os arquétipos estão presentes. Mesmo sem ninguém te dizer o que são, por sermos parte de uma humanidade que não começou ontem, temos alguma relação com essas representações, então há algum sentimento em vê-las.
Aqui há um vínculo direto com o inconsciente coletivo
Começamos nossa visita pela Serra do Barreiro, também conhecida por Grande Muralha. Um paredão enorme que pode inclusive ser subido por uma das extremidades para avistar a Caatinga lá de cima. No paredão há uma série de sítios com pinturas rupestres, sendo o principal a Toca do Gato e o Guardião.
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Próximas uma da outra estão a Loca das Cinzas e a Casa de Farinha. Esta, inclusive, era usada até poucos anos atrás para produção de farinha de mandioca ou macaxeira. Além de avistar a história antiga, também ficamos imaginando a história recente desta região.
A Toca do Veado fica junto do Cânion. Você começa caminhando por uma série de rochas que criam formatos como o de uma tartaruga, até chegar ao arenito, onde estão as inscrições. O veado foi representado por ser uma ameaça, uma constante companhia, uma caça?
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O que parece ser uma região inóspita para viver aos olhos de dois paulistanos pela falta de água e excesso de calor e poeira, é uma condição real na qual muitos vivem, inclusive onde muitos escolheram morar.
Alcobaça é o principal sítio arqueológico da região do parque. Seu acesso fica mais afastado, entre a cidade de Buíque e a Vila do Catimbau. No caminho até o sítio passamos por uma aula de caatinga: nove tipos de cactus e duas juremas. Para quem conseguia enxergar somente a mata branca e alguns cactus, foi uma enorme mudança, incrivelmente encantadora e enriquecedora.
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Tomamos conhecimento que até poucos anos atrás haviam famílias inteiras vivendo ali, usando as tocas como casas. As pinturas não eram entendidas e tampouco apagadas até que os arqueólogos chegaram e começaram a estudá-las e ver o valor em entender sobre a humanidade e as migrações para as Américas.
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O Morro do Cachorro é o sítio mais perto da Vila, ali há um cemitério indígena. Nos chamou ainda mais a atenção a sua formação e a sua exuberante flora. Em um espaço relativamente pequeno e antropizado ainda sobra muita beleza para ser vista.
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Os Homens sem Cabeça ficam escondidos lá em cima em uma rocha, e trazem ainda mais incógnitas. A representação parece ser de uma luta, de uma resistência de homens (pela representação de pênis) lutando com algo bem maior, como um monstro.
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Na Serra dos Breus o destaque é para as gravuras. Diferente das pinturas, algumas não levam tinta, são entalhadas na rocha. Em formato mais geométrico, algumas chegam a lembrar o formato de mãos, mas com quatro dedos.
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Montes, Cânions e Vistas
A Serra das Torres fica perto da Vila e do Morro do Cachorro. A subida é ainda mais bonita no final do dia, quando é possível apreciar o por do sol lá de cima.
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O destaque fica para os lapiás, uma formação no arenito que reúne diferentes cores e texturas. Novamente, no final do dia, quando o sol bate de lado, ficam ainda mais bonitas.
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O Santuário, o Cânion e o Chapadão, apesar de ficar muito próximos, são bem distintos, oferecendo diferentes experiências e vistas. O Santuário com suas pedras pontiagudas, o Chapadão com vista para as faixas de arenito ao longe e a toca dos Homens sem Cabeça, o Cânion para a abertura entre os paredões e a Toca do Veado.
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A Igrejinha é um dos locais mais visitados, mas não demos sorte. Quando fomos não havia ninguém, o portão estava trancado e não pudemos visitar, somente de fora pela propriedade do seu Paulo, muito simpático vizinho.
A trilha das Umburanas fica na parte norte e não tem nenhuma árvore dessa espécie, mas dá vista para a comunidade homônima. As formações das rochas são pontiagudas e finas, dá a sensação de estar em um desenho animado do papa léguas. Até que lembramos que estamos no Brasil e que não tínhamos ideia de que existia esse tipo de formação aqui.
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O Mirante do Brejo ainda é pouco visitado pela distância. Mas, quando fomos ao Alcobaça vimos aquele chapadão e quisemos ir conferir a vista de lá. De lá se vê o Santuário, o Chapadão e todo o vale que é aberto a partir do Cânion. Essa talvez seja a vista mais ampla do parque todo.
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Histórias
Com quem quer que você fale aqui, saberá apontar cada planta da caatinga como uma farmácia. É impressionante o conhecimento que o pessoal aqui tem e transmite. Nós mesmos chegamos a usar o pinhão brabo para ajudar em uma cicatrização.
Há também ao lado do parque uma terra indígena, dos Kapinawá. Vale a pena conhecê-los e entender como aqui chegaram.
Mas a principal história diz respeito do “Meu Rei”, um messias que dizia que o mar iria subir e convenceu centenas de pessoas a se mudar para o sertão onde estariam salvas. Ele escavou cavernas, criou uma moeda própria e construiu um castelo. Hoje ali é conhecido como a Serra dos Breus, mas ali havia uma água milagrosa que atraia multidões e muito respeito.
Recomendamos assistir Árido Movie de Lírio Ferreira, antes de ir. Assistir como ficção, mas depois ficar aberto a saber o que é baseado em fatos reais. E a ler um pouco sobre o “Meu Rei” antes de ir. Há inclusive uma dissertação de mestrado em história sobre ele.
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7591/1/arquivo6582_1.pdf
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:
UAU! Estou prestes a ir ao Parque do Catimbau e achei o site de vocês. Que blog fantástico! Descrições detalhadas e informativas, todo sucesso do mundo para vocês!
Eba, muito obrigado, depois conta como foi!!!
Nunca tinha visto um site como esse que vocês fizeram. Bem didático e com ligação direta com o mapa. Parabéns pelo trabalho. Estava procurando os limites do Parque Nacional do Catimbau e vocês plotaram no mapa. Obrigado.
Opa, que maravilha!!! Depois compartilha como foi sua visita!
Obrigado pelo relato, transmite o encanetamento vivido por vocês!
Vocês tem uma relação das trilhas que não precisam de guias para serem visitadas?
Olá Arthur, muito obrigado. A princípio todas as trilhas podem ser feitas de forma autônoma, exceto Alcobaça e Serra do Barreiro, que é Terra Indígena. Algumas têm acesso por propriedades privadas que cobram a entrada e exigem guias do local, como os Lapiais. Se você for de forma autônoma, certamente já terá muitos pontos para visitar, e depois (ou antes) complementar com algumas visitas com guias locais, que sempre dão informações super valiosas.