Antes de tudo, vale dizer que o Parque Nacional da Ilha Grande não é aquela famosa ilha do estado Rio de Janeiro, perto de Angra dos Reis. O parque nacional fica no Rio Paraná, carinhosamente conhecido por “Paranazão” pelas pessoas que vivem no seu entorno e navegam por ele. Pudera, o Rio Paraná é o oitavo do mundo em extensão e o segundo maior da América do Sul, perde somente para o Amazonas.
O Parque Nacional da Ilha Grande não é no litoral do RJ!
O Paranazão é (pasmem!) um efluente do Tietê, que passa pela cidade de São Paulo, completamente poluído. É também um rio bastante impactado pelas inúmeras barragens para hidrelétricas, que fazem com que o volume de água e os sedimentos que alimentam os animais que habitam o rio e seu entorno, tenham sido reduzidos significativamente nos últimos anos.
Além de estar na divisa entre os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, este rio conta com um arquipélago de mais de 180 ilhas. Uma delas, a Ilha Grande, tem mais de 100 km de extensão e chega a ter 18km de largura. Apesar do nome, o parque também inclui uma porção continental.
Pouquíssimas pessoas continuam vivendo nas ilhas, poucas visitam (exceto algumas praias pelo dia). Além disso, este parque foi extinto e recriado em uma nova forma. Mas ainda restam alguns fantasmas do que este parque já foi no passado, que falaremos mais adiante, por isso a denominação.
O que saber e fazer antes de ir ao Parque Nacional da Ilha Grande
- O parque não tem acesso público ou portaria, logo não há cobrança de ingresso
- O desembarque nas ilhas não é permitido sem autorização, exceto a Praia do Meião, também conhecida por Prainha, a 5 – 10 minutos de Porto Camargo
- O rio não faz parte do parque, pode ser visitado
- O acesso pelo rio requer barco ou caiaque
- Tanto em Porto Camargo quanto em Guaíra existem passeios regulares ao rio e algumas praias onde ocorre desembarque para banho; confirme se o barqueiro tem autorização para levá-lo
- Na porção continental pode ser visitada a Lagoa Xambrê, com acesso via propriedade particular
- Algumas trilhas nas ilhas começaram a ser demarcadas a partir de Porto Figueira, mas o processo foi descontinuado
- A porção norte do parque pode ser visitada a partir de Porto Camargo, em Icaraíma PR
- A porção continental a partir de Antônia PR
- A porção sul a partir de Guaíra PR
- Não há estrutura de banheiros, lanchonetes/restaurantes ou camping no parque; em algumas das propriedades que dão acesso ao parque há estrutura
- A água, apesar de limpa, não é recomendada para consumo, pois passam embarcações grandes que deixam óleo no rio
- Cuidado com a correnteza, o rio é forte; colete salva-vidas deve ser usado até pelos melhores nadadores
A melhor forma de conhecer o rio é procurando pela Rota dos Pioneiros, parte da Rede Brasileira de Trilhas: http://www.redetrilhas.org.br/w3/index.php/as-trilhas/trilha-regional-2/rota-dos-pioneiros
Além de conhecer mais sobre a história, importância e pontos de visitação, há passeios de caiaque pelo rio que podem agregar muito à sua experiência. Infelizmente não tivemos sorte de estar nos dias do passeio. O parque é uma das unidades de conservação da rota. Conhecemos também o Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema. Chegar até esse parque já vale a pena, além de toda a biodiversidade e iniciativas como ninhos artificiais para os papagaios, que, por conta do desmatamento, não encontram mais árvores para fazer seus ninhos.
Na parte norte do parque está o Porto Camargo, que faz parte da cidade de Icaraíma. De lá é possível avistar a Ilha Bandeirante, também conhecida por Ilha Jacaré, onde há uma ponte que liga os estados de PR e MS. De lá é possível visitar a Praia do Meião, fazer um passeio de caiaque e ver o paredão das araras. Infelizmente, não há araras mais habitando esse local desde os anos 80, pelas mudanças no ecossitema.
Na parte central / leste do parque está a porção continental. A partir da cidade de Antônia é possível visitar a Lagoa Xambrê. Trata-se de um lago natural cuja fonte não é o rio, mas algumas bicas ou minas próximas. É uma lagoa completamente cercada de vegetação, onde há uma pequena trilha e dois pontos de entrada / praias para banho.
Na parte sul do parque pode-se visitar, saindo de Guaíra, a Ilha São Francisco. É uma ilha mantida pelo Frei Pacífico, um artesão e historiador de Guaíra, que permite visitação e contemplação da natureza. Há uma crítica pelo fato de haver árvores não nativas na ilha atualmente.
Também saindo de Guaíra de barco é possível conhecer a Lagoa Saraiva, que fica dentro da Ilha Grande propriamente dita. Os barcos chegam até o começo da lagoa, que é um santuário e berçário de aves e peixes. O desembarque não é permitido, mas vale a visita para entender um pouco mais da biodiversidade e riqueza do local.
Este parque é o que restou do antigo Parque Nacional das Sete Quedas, criado em 1961 e extinto no início dos anos 80, quando as Sete Quedas do Guaíra foram submersas pela represa de Itaipú. As Sete Quedas eram a maior queda d’água do mundo, com vazão 2x de Niágara Falls (atualmente a maior) e 6x às Cataratas do Iguaçú. Por esse motivo, Guaíra era a cidade mais visitada do país em turismo.
Ao longo de 15 dias, entre o fechamento das comportas e a submersão das Sete Quedas, o barulho que era ouvido até 30km de distância, virou um silêncio. Esse silêncio fez com que os hábitos dos moradores mudassem e passassem a dar costas ao rio. Imaginem o impacto da ausência do barulho na vida dos animais, numa caçada ou defesa?
Inegável a necessidade que nossa sociedade tem por energia. Mas, se 2 das 16 turbinas de Itaipú não tivessem sido construídas, as Sete Quedas teriam sido poupadas. Vale olharmos para trás para nos ajudar a seguir adiante. Como podemos equilibrar o desenvolvimento com o meio ambiente? Quais consequências para a natureza a chamada “energia limpa” gera, além das questões psicológicas?
A área deste parque foi recuperada naturalmente, sem plantios específicos, nos últimos 30 anos. A cobertura de floresta aumentou em 15x nesse período, desde quando as pessoas que habitavam as ilhas saíram, temendo que uma nova hidrelétrica fosse construída. A hidrelétrica não foi feita, nem todos foram indenizados, o parque não teve o uso público desenvolvido, o que vinha sendo feito foi descontinuado. Será este o caminho, deixar a natureza quieta se recuperando? Ou será que conseguimos ajudá-la a acelerar esse processo, pelo menos evitando mais queimadas geradas pelo homem, muitas delas criminosas?
No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:
Muito necessária e difícil discussão para a determinação de um ponto de equilíbrio entre natureza e geração de energia.
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