Este parque traz uma bela homenagem a dois naturalistas importantes para o Brasil. Auguste de Saint-Hilaire percorreu o Brasil entre 1816 e 1822, quando reuniu mais de 30 mil amostras, 24 mil de plantas e 6 mil de animais. Com isso, deixou um legado de documentação de espécies, usado como referência até os dias atuais (https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire). Roberto Ribas Lange foi um biólogo e ambientalista paranaense que ajudou a proteger o nosso patrimônio natural. Organizou o Adeus às Sete Quedas, sobre o qual falamos no nosso relato sobre o Parque Nacional da Ilha Grande (https://entreparquesbr.com.br/ilha-grande/)e teve uma morte prematura aos 44 anos no Rio Iguaçu, que ajudou a proteger (https://www.h2foz.com.br/sem-categoria/a-vida-de-roberto-ribas-lange-por-teresa-urban-8832/).

O nome do parque é uma homenagem a dois importantes naturalistas

Apesar de se tratar de uma bela homenagem, o nome do parque pode dificultar o entendimento de sua importância e pode acabar por não atrair mais visitantes. Esperamos que os próximos parques decretados tenham nomes que levem em consideração espécies em risco de extinção, dando luz às questões e trazendo a sociedade para conhecer e com isso conservar, a natureza.

Este parque está contido em uma cadeia montanhosa chamada de Serra da Prata, que é um divisor de águas dos rios que desembocam nos estuários de Guaratuba e Paranaguá. Além de fornecerem água e nutrientes para os estuários, onde os peixes e outras espécies encontram locais de desova e crescimento, fornecem nutrientes para o mar paranaense, contribuindo com a manutenção da fauna marinha. Se a “Serra do Mar” corre paralela à costa, a Serra da Prata corre em direção ao mar, por isso tão importante.

O parque não conta com núcleos que organizam o acesso, mas conta com um blog onde podem ser encontradas informações sobre o histórico do parque e orientações para visitação: https://parnasainthilairelange.wordpress.com/visitacao/

O que saber e fazer antes de ir ao Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange:

  • O parque fica próximo à cidade de Matinhos no PR
  • A maior parte dos atrativos conta com bom acesso, sendo o final sempre em estrada de terra com boa conservação
  • Não há portaria ou ingressos ao parque, alguns atrativos passam por propriedades privadas, poucos cobram ingressos (Cachoeiras do Quintilha e do Rio das Pombas e Salto Parati)
  • Não há banheiro, restaurante ou lanchonete na maior parte das trilhas e atrativos
  • Na maior parte das trilhas não há sinal 4G, por se tratar de mata fechada
  • Os picos deste parque são acessados por trilhas bastante íngremes, evite ir em época de chuvas quando as trilhas ficam extremamente escorregadias
  • Muitas trilhas têm árvores caídas, exigindo que seja necessário de agachar ou pular por cima
  • É permitido acampamento na Torre da Prata, mas há limitação de espaço e há um formulário a ser preenchido no blog do parque, informado acima

A PR-508 é um dos principais acessos ao parque nacional

O principal acesso ao parque ocorre pela PR-508, que vai de Alexandra a Matinhos, no sentido da costa. Ao longo dessa estrada é possível acessar estradas de terra que levam a trilhas para rios e cachoeiras belíssimos, com diferentes níveis de dificuldade.

A cachoeira do Quintilha pode ser acessada facilmente de carro e não requer reserva. Há duas entradas, na cachoeira de baixo, onde o acesso e o estacionamento são fáceis, e na cachoeira do alto, com uma estrada mais difícil para aproximação. Em ambos os casos é cobrado ingresso para visitação.

A Quintilha de baixo tem uma trilha por uma estrada de terra por onde passavam veículos motorizados, mas que foram proibidos. São cerca de 500 metros até uma porção de terra com grama e pouca sombra onde é possível montar um picnic para apreciar a mata e a queda d’água. O poço é raso no início e fundo mais próximo à queda, permitindo que mesmo quem não sabe nadar possa se banhar. A queda é imponente, convém cuidado com a força da água quando nadar mais próximo a ela.

Para chegar ao Alto da Quintilha há uma estrada de terra mais desafiadora para veículos não traçados, mas não há trilha, somente uma escadaria que leva até a queda d’água. Menos imponente em altura, a queda fornece um poço mais tranquilo para banho, de onde é possível apreciar a mata do entorno. Apesar de mais fácil para se banhar, pode ser menos acessível para quem tem dificuldade de caminhar que a outra cachoeira.

O Salto do Tigre é uma das trilhas mais belas e acessíveis da região

Também pela PR-508 está o acesso ao Salto do Tigre. Não há um local exato para estacionar e tampouco fica claro onde começa a trilha. Mas é logo que sai da estrada asfaltada e antes de chegar a algumas casas. A trilha para o Salto é uma subida amena constante, totalmente sombreada e com pouca dificuldade. No final da trilha há um ou outro ponto mais íngreme até chegar a uma pedra com uma clareira onde está o salto. É possível se banhar, mas com cautela, dado que a força da água é grande. A cor da água é completamente transparentes, esverdeada, e a trilha é exuberante e prazerosa.

Pouco mais à frente pela PR-508 fica o acesso ao Park Hotel Mata Atlântica (https://www.mataatlantica.com.br/), de onde há acesso à Cachoeira e Escorregador do Rio das Pombas. O acesso é pago e limitado a hóspedes ou também para quem faz day-use do hotel, com acesso a piscinas naturais e quentes além da trilha guiada. O passeio sai todos os dias às 10h e leva aproximadamente 1-2 horas ida e volta. A mata, apesar de bonita e com algumas placas explicativas, está bastante mexida, diferente da original.

O caminho ao Salto Parati pode ser “cortado” com um belo passeio pelos mangues

Quase chegando a Matinhos há uma saída para a trilha do Salto Parati. O salto pode ser acessado tanto por esse lado, em uma trilha de aproximadamente 4-5km, quanto por barco desde Guaratuba ou comunidade Cabaraquara, reduzindo a trilha a 2km. Também com natureza bastante mexida, esta trilha segue o caminho dos postes de luz e tem uma grande subida e uma grande descida. Passa pela comunidade Parati, onde há opções de hospedagem e alimentação (nos finais de semana ou temporada somente) e segue até uma propriedade particular onde é cobrado ingresso para o salto.

Este salto pode ser visitado tanto na parte de cima, onde há um poço, quanto na parte de baixo, onde há um poço e também a queda d’água propriamente dita. Há muita sombra e lugar para sentar e apreciar a vista, mas há muito (muito mesmo!) pernilongo. Vá preparado com roupa comprida e procure usar repelentes naturais, dado que parte dele ficará na água onde você certamente vai querer se banhar.

Os picos do parque permitem amplas e diferentes vistas

Mais próximo a Matinhos há dois picos com vistas complemente diferentes que podem ser visitados.

O Morro do Cabaraquara fica após o acesso à balsa para Guaratuba e a trilha começa na comunidade de mesmo nome, onde recomendamos voltar para almoçar ostras criadas de forma sustentável na região. A trilha é curta, mas muito íngreme, trazendo dificuldades enormes em dias chuvosos ou logo depois de chuvas. Recomendamos ir em uma época seca para que a trilha seja mais fácil e a vista da baía de Guaratuba esteja limpa. Da pedra que fica próxima ao topo é possível avistar a serra do mar e o estuário onde os peixes se reproduzem e diferentes espécies de aves usam como abrigo.

Não tivemos sorte de vê-los, mas essa baía abriga os guarás. São aves belíssimas que dão nome à cidade de Guaratuba e haviam desaparecido por 80 anos. Recentemente voltaram e podem ser vistas em passeios de barco (https://www.youtube.com/watch?v=8D4dg0WsnYM).

O outro pico que pode ser visitado é o Morro do Escalvado. Parte praticamente da cidade de Matinhos, onde até os anos 90 havia um teleférico, onde ocorreu um acidente e, por isso, foi desativado e desmontado. A trilha começa por uma área de samambaias sem qualquer sombra e depois tem uma subida sombreada até o pico. Trata-se de uma trilha relativamente fácil, mas que requer atenção a escorregões e para não se perder no início.

Lá de cima há uma vista quase 360 graus desde o encontro das águas da baía de Guaratuba com as águas do mar até a Serra da Prata. Vale a atenção à cor das águas que se misturam. As águas dos rios são mais barrentas e escuras porque são ricas em nutrientes que servem de alimento à fauna marinha da região. Aquela água escura que parece manchar a transparente água do mar é justamente o que garante alimento às espécies marinhas.

A Torre da Prata seguirá no nosso imaginário, ainda não conquistada por nós

A Torre da Prata tem uma presença importante. Ela pode ser avistada em dias abertos de muito longe. Vimos desde Pontal do Paraná, das Ilhas dos Currais, do Parque Nacional Guaricana e de inúmeros pontos no Saint-Hilaire/Lange. Ela é imponente, bonita, enorme, íngreme. Tanto que passou a ser a única montanha que tentamos e ainda não conseguimos chegar ao topo. Mas tudo bem, a segurança vem sempre em primeiro lugar!

A trilha para a Torre da Prata parte da estrada de Limeira. São 7km de subida com 1,5km de altimetria. É como subir a pé o equivalente a quase duas vezes o prédio mais alto do mundo (https://pt.wikipedia.org/wiki/Burj_Khalifa).

A distância e a altimetria não foram os maiores desafios para nós neste caso, mas as árvores caídas e o peso que carregávamos. Com o intuito de amanhecer no pico e ver as nuvens se afastando à medida que o dia ia ganhando calor, levamos equipamento de acampamento.

Isso aumenta em unas 4-5 vezes o peso que levaríamos para uma trilha normal, além de criar um volume que dificultava passar por baixo das inúmeras árvores caídas, sem falar em pular as árvores pelas quais não dava para passar por baixo.

Após percorrer 3/4 da trilha e metade da altimetria, as costas reclamaram e fizemos as contas. Chegaríamos ao cume não antes das 18h, gerando riscos de ter que montar barraca à noite, além da exaustão física, que gera riscos à medida que cansados tendemos a pisar em falso, torcer, cair, nos machucar.

É preciso saber seus limites, voltamos para trás

Tentamos uma segunda vez, partindo da comunidade Floresta, de onde a altimetria seria 1,1km. Mas o acesso é via uma propriedade particular. Não havia ninguém para nos conceder acesso, então optamos por não seguir, não invadindo propriedade.

Ficaram as lembranças da bela montanha, o desejo de voltar a tentar um dia e o entendimento de nossos limites.

No link você pode acessar o mapa por onde passamos e ver em detalhes onde fica cada localidade citada acima:

2 comentários em “Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange: o parque da serra para o mar

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